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Por Paulo Grise*

Essa quarentena tem feito as pessoas pensarem na vida. Muitas com quem conversei falaram sobre a percepção de uma fortíssima interdependência de todas as pessoas, empresas, nações para a existência do ser humano. 

Concordo fortemente. O mais básico que você precisa para viver não chega até você sem a participação de milhares de pessoas. Tudo que você tem, usa, come foi feito por alguém, por muitas pessoas, por alguma empresa, por muitas empresas, você não fez sozinho. Ninguém consegue viver sozinho.

Uma pessoa depende de outras, muitas outras, milhares de outras que nunca nem imaginará como impactam sua vida.

Uma empresa depende de outras, muitas outras, milhares de outras que nunca nem imaginará como impactam seu resultado.

Ao longo dos últimos anos, tenho falado muito com as pessoas e especialmente com as pessoas na liderança das empresas sobre interdependência.

Se você ainda não tinha atentado para isso, pense na dimensão dessas interdependências para você e sua família morarem bem, por exemplo. Costumo usar um desenho de uma xícara de café para mostrar que ali, da matéria prima natural até o prazer de tomar e compartilhar um café com uma pessoa querida, já aconteceu mineração, siderurgia, cerâmica, agricultura de café e de cana de açúcar, distribuição de água, gás ou eletricidade, fogão, transporte, distribuição, varejo.

Isso é interdependência. A falha de um desses elementos desse sistema complexo pode impedir o seu café ou pode impedir sua família de morar bem ou sua empresa de entregar o produto ou serviço que oferece aos clientes.

Interdependência e competição não combinam. Como é possível competir com alguém de quem dependo?

O desenho predominante da estratégia empresarial adota pressupostos da competição externa e interna. Michael Porter, quando escreveu Estratégia Competitiva na década de 1980, colocava fornecedores e clientes como potenciais concorrentes e sugeria criar barreiras para impedi-los de tentar avançar sobre a empresa. Até hoje ele é citado, usado como referência e esse modo de pensar continua fazendo mal ao ambiente empresarial.

Fornecedores são colaboradores na construção do valor da oferta.

Clientes são integradores, materializadores, realizadores ou utilizadores do valor da oferta construída por quem veio antes no sistema. Os clientes dão finalidade ao valor que foi sendo construído desde a matéria prima natural.

Interdependência recomenda colaboração, cooperação. Todo o desenho estratégico precisa reconhecer as interdependências e construir as redes e alianças de cooperação para o progresso da empresa e da sociedade.

Paulo Grise
*Senior Business Consultant