Diferenças culturais não têm necessariamente origem geográfica, embora estas sejam predominantes. Trataremos desta dinâmica em uma outra publicação.
Diferentes preferências individuais, normalmente moldadas pela educação formal, também podem implicar em importantes desafios na formação e gestão de equipes.
Como exemplo, há pessoas que preferem modelar a realidade, ou o que dela é depreendido, através de números. Simulações, raciocínios, enfoque primordial, e até a própria expressão de suas ideias se caracteriza pela utilização de números, de forma linear concretamente apoiada na necessidade de quantificar para entender. São pensamentos organizados por grandezas e tabelas de números, com enfoque principal na qualidade dos cálculos apresentados. Aqui, o risco que se apresenta é o de supervalorização da forma (cálculos corretos) em detrimento do conteúdo.
Outros, verbalmente articulados, preferem a utilização profusa de palavras e conceitos verbais, estruturando seus pensamentos também de forma linear, porém cujas estruturas mais se assemelham a árvores. Parênteses são abertos, para explicar conceitos ou expandir para contextualizar histórica ou cientificamente as ideias, como se o pensamento central fosse um tronco, e os parênteses diferentes ramos de uma mesma árvore. A espera pela convergência das ideias ou pela conclusão do raciocínio pode ser eterna.
Há ainda aqueles que preferem o raciocínio através de funções matemáticas (sejam elas determinísticas ou probabilísticas), partindo do detalhe para construir abstrações que expliquem um funcionamento geral da realidade (ou do que dela se depreende) para definir “a priori” a faixa onde um resultado esperado deverá se encontrar. O risco desta preferência normalmente reside na baixa atenção aos detalhes, já que podem ser raciocínios abertos e conceituais.
Outra preferência de raciocínio é aquela que utiliza ícones, símbolos visuais, e a inovação como ponto focal. Uma habilidade para a desconstrução das ideias e reconstrução de novos paradigmas.
Se imaginarmos uma equipe de trabalho composta por um ou mais profissionais com estas diferentes preferencias, podemos imaginar os desafios que um gestor pode enfrentar procurando a forma de comunicar a visão, o mandato, os desafios, os riscos e os processos de atuação e resolução de problemas. Cada representante dos respectivos grupos terá necessidades diferentes de decodificação do que está sendo transmitido, e estará constantemente fazendo uma “tradução” daquilo que ouve para aquilo que parecerá fazer sentido para engajamento na tarefa e no grupo, e isso assumindo que a capacidade de ouvir já esteja desenvolvida. Se houver tempo para desenvolver abertura e formação de equipes com alto grau de identificação e confiança, ótimo, porém no mundo atual as equipes tendem a se formar e se dissipar mais rapidamente do que no passado. O líder de um time com estas características deverá ter um ferramental que permita inicialmente reconhecer as preferencias de cada membro da equipe e depois lidar para que as mensagens e contribuições sejam ouvidas e entendidas por todos, e que suas diferenças sejam respeitadas e valorizadas.
Em muitos casos, a preparação de reuniões onde membros apresentam alta diversidade, pode exigir entrevistas individuais, discussões de aspectos negociáveis e inegociáveis, identificação de agendas pessoais e contrato de confidencialidade, antes mesmo que o trabalho em equipe possa vir a ser efetivo. Um desafio emocionante, e de resultados recompensadores!