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Por Ronaldo Ramos*

Com o avanço tecnológico da última década, devemos experimentar “dois dos eventos mais surpreendentes da história humana: a criação de uma verdadeira inteligência das máquinas e a conexão de todos os humanos via uma rede digital comum, transformando a economia do planeta”. É o que preconiza o livro The Second Machine Age (A Segunda Era da Máquina), de Andrew McAfee e Erik Brynjolfsson.

A era da informação coincidiu – e, em certa medida, provocou – tendências econômicas adversas: a estagnação da mediana da renda real; crescente desigualdade na renda do trabalho e na distribuição de renda entre o trabalho e o capital; e o crescimento do desemprego no longo prazo. Contudo, teremos cada vez mais acesso a melhores tecnologias e mais conforto, e pagaremos cada vez menos por isso. Também teremos cada vez mais tempo livre que nos permitirá vivenciar uma nova economia.

O surgimento desta nova tecnologia melhora o padrão de vida e, ao mesmo tempo, traz anomalias e desequilíbrios. Mas a sociedade aos poucos aprenderá a lidar com isso. Há um preço a pagar pelo progresso científico e tecnológico, como aconteceu na era da máquina a vapor.

Quando olhamos historicamente para a evolução da população no planeta e de sua qualidade de vida, notamos uma primeira onda de desenvolvimento exponencial a partir da invenção da máquina a vapor. Nesse momento, a força física humana, que anteriormente havia sido parcialmente substituída pela força física animal (domesticação), é substituída em grande extensão pela máquina impulsionada pelos motores a explosão.

A próxima onda, que aparentemente produzirá um novo desenvolvimento exponencial, ou ainda uma série deles, será a digital, com seus softwares, hardwares, robôs, inteligência artificial ou computação cognitiva ou ainda inteligência artificial geral – onde a expertise das inteligências artificiais dará espaço a uma mais geral – e tudo rodando em dispositivos móveis.

Na Segunda Era da Máquina, argumenta Brynjolfsson, “estamos começando a automatizar tarefas cognitivas e sistemas de controle que permitem antecipar a substituição do trabalho mental em algumas de suas dimensões. Hoje, em muitos casos, máquinas artificialmente inteligentes podem tomar decisões melhores que seres humanos”. Assim, humanos e máquinas equipadas com software podem ser cada vez mais alternativos, e menos complementares. Agora que estamos na segunda metade do tabuleiro digital, vemos carros que podem se guiar sozinhos no tráfego, robôs industriais flexíveis e smartphones portáteis que equivalem a um supercomputador de apenas uma geração atrás.

Acrescente-se agora a disseminação da internet para pessoas e coisas – logo cada indivíduo no planeta terá um smartphone, e cada caixa registradora, motor de avião, iPad de estudante e termostato estará transmitindo dados via internet. Todo esse fluxo de informação implica em podermos descobrir e analisar padrões instantaneamente, reproduzir na hora o que está funcionando numa escala global e melhorar o que não está funcionando. A velocidade e a curva do aprimoramento se desenvolvem de forma muito rápida e íngreme.

Segundo os autores, nossa geração terá mais poder para melhorar (ou destruir) o mundo do que qualquer outra, dependendo de menos gente e de mais tecnologia. Significa também que precisamos repensar nossos contratos sociais, porque o trabalho é muito importante para a identidade e dignidade de uma pessoa e para a estabilidade social.

“Inovadores, empreendedores, cientistas, curiosos e muitos outros maníacos por tecnologia vão se aproveitar dessa cornucópia para desenvolver tecnologias que nos assombrem, nos deleitem e que trabalhem para nós.”

Acima de tudo, insiste o livro, isso é o apenas o começo. Grande parte do trabalho cerebral rotineiro vai ser computadorizado. O cenário resultante poderia ser marcado por distribuição de renda ainda mais desigual, com um pequeno grupo de bem-sucedidos no topo e outro, amplamente maior, de pessoas em dificuldade no degrau mais baixo. Em 2012, por exemplo, a faixa formada por 1% dos americanos mais ricos ganhou 22% de toda a renda, mais que o dobro do que nos anos 80.

Difícil acreditar que a digitalização pode afetar a manufatura da mesma forma que afetou e transformou a mídia. Mas, e se a impressão 3D, também chamada de “manufatura aditiva”, se popularizasse e permitisse a cada um de nós reproduzir remotamente produtos concretos? Ou ainda se pudéssemos criar nossos próprios produtos personalizados?

Os modelos atuais de produção dependem de instalações fabris grandes e interligadas, bem como do vasto conjunto de relações de abastecimento e entrega que gira em torno delas. A digitalização tem o potencial de criar importantes rupturas sobre esse sistema. Ela já está revolucionando a maneira de se fazer negócio em determinados segmentos, entre os quais o de próteses e implantes médicos, pois a impressão 3D facilita a personalização e agiliza os projetos.

Impulsionada pela demanda do cliente e possibilitada pela tecnologia moderna, a personalização em massa é uma tendência crescente em manufatura. Além disso, ela apela para consumidores modernos, o que ajuda os fabricantes a encontrarem uma vantagem competitiva necessária. Customização em escala seria a próxima máxima da economia?

Algumas empresas ainda não compreenderam que a personalização em massa tem o potencial de aumentar a receita e obter vantagens competitivas, melhorar o fluxo de caixa e reduzir o desperdício por meio da produção sob demanda. A boa notícia é que grande parte das organizações já entendem que ser “novo” ou “diferente” não é mais um diferencial.

O ambiente de negócios está cada vez mais volátil e desafiador. Fazer apenas mudanças não é mais o suficiente. São necessárias verdadeiras transformações impulsionadas pela velocidade exponencial da evolução tecnológica. A instabilidade e a incerteza dos cenários econômicos e as rupturas que surgem nos modelos de negócio estabelecidos e consolidados são as únicas constantes!

O que isso sinaliza? Os atuais planejamentos estratégicos deverão ser revistos, para contemplar novos e inesperados cenários e não apenas os cenários conhecidos. Não é uma tarefa fácil olhar o longo prazo e, ao mesmo tempo, estar preparado para ser ágil e adaptável em um mundo dinâmico e imprevisível. A velocidade das decisões aproxima-se da velocidade computacional. De fato, o CEO terá de se preparar para entender o passado próximo, se desconectar das crenças anteriores e proteger a criação do futuro.

Invenções de ruptura nos últimos 5 anos:

2010 – Os automóveis autônomos fizeram sua primeira viagem em estradas e com tráfego.

2011 – O supercomputador Watson da IBM saiu vitorioso do programa “Jeopardy” contra dois dos melhores campeões que por lá passaram. Com uma larga margem!!!

2012 – Gatos em fotos na internet – inteligência artificial para “escanear” fotos e procurar disposições de pixels semelhantes a rostos, corpos e gatos!!! Com um hardware de aproximadamente 1 milhão de dólares.

2013 – Reduzido o custo de hardware necessário de 1 milhão de dólares para 20 mil dólares, com desempenho melhorado!!!

2014 – Skype com chamadas grátis para todo o mundo, agora com tradução simultânea entre as línguas dos participantes!!!

2015 – Deepmind anuncia sistemas de inteligência artificial que aprenderam a jogar vídeo games da ATARI a partir de um único comando – maximize a pontuação!!! Sem regras, sem dicas, sem estratégias… E chegam a resultados surpreendentes – estratégias jamais pensadas por seus idealizadores.

2015 – Uma peça tridimensional é formada a partir de um recipiente com cola, revolucionando as bases da manufatura, da logística, etc.

* Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net