Pontos cruciais para a prática do feedback


Por Paulo Henrique Ferro*

Como anda a cultura do feedback na sua empresa? Os benefícios desta prática são comprovados por pesquisas nacionais e internacionais. Entre eles, a contribuição para retenção dos funcionários, para a motivação e o engajamento, além de alavancar o desenvolvimento dos colaboradores. Porém, no “calor das operações” colocar o feedback em prática pode ser desafiador.

Na minha experiência, há alguns pontos imprescindíveis a se considerar quando essa prática entra na agenda da gestão. Nos processos de mentoria, muitas empresas dizem que possuem a prática de feedback, mas a minha pergunta é: ‘por trás deste processo que vocês fazem está presente o interesse pelo outro?’. Essa condição importantíssima não pode ser imposta, precisa surgir de forma natural.

Lembro de um vídeo do Afeganistão em que pessoas levam feridos para dentro de um helicóptero. Na cena, percebe-se que o comandante geral estava carregando um ferido nas costas e um membro do grupo pergunta: ‘por que está fazendo isso? Você é o general, esse não é seu trabalho”. E ele responde: ‘eu faço isso porque tenho certeza que ele faria o mesmo por mim se tivesse nesta situação’.

Então, o genuíno interesse pelo desenvolvimento do outro é essencial porque estamos falando de seres humanos. De outra forma, o feedback não acontece de maneira enriquecedora.

Feedback nas duas mãos

Outro ponto fundamental para o exercício da prática de feedback é que ele precisa acontecer nas duas mãos, do superior para o colaborador e vice-versa. Se for só o feedback do chefe para o subordinado, pode se configurar mais como uma avaliação. Mas se, como líder, eu dou feedback e recebo se abre um espaço diferente: de troca, de observação, para além da avaliação meramente. O feedback nas duas mãos tem um efeito mais forte e potente.

Neste caso, tem a questão da confiança. O quanto posso falar para o meu gestor, das minhas insatisfações? E, do outro lado, o quanto o gestor está preparado para ouvir um retorno sobre seu trabalho? A convivência, a vivência junto, é o grande alicerce para construir um ambiente de confiança. Outro aspecto é que se precisa haver uma boa maturidade dos executivos, dos profissionais envolvidos para que essa via de duas mãos funcione.

Ainda que a questão da confiança precise ser trabalhada, pois é multifatorial e um tanto quanto complexa, a maturidade em si já traz para a consciência as questões que precisam ser levantadas, de como se deve receber e o que fazer com o que está ouvindo.

No fim de tudo, a melhor maneira para desenvolver isso é praticando e avaliando em um fluxo contínuo, pois somente assim as pessoas podem experimentar as várias situações que se apresentam em uma conversa dessas. E, experimentando, vão encontrando as saídas. E, dentro do possível, avaliando o processo.

Sendo assim, a avaliação é um componente definitivo para medir a confiança e a maturidade, condições sine qua non para a prática do feedback.

Intenção e forma

Outras duas coisas muito importantes na prática do feedback são a intenção e a forma. Você até pode dar feedback com uma boa intenção, mas a forma que você faz pode destruir qualquer intenção positiva. Em vez de contribuir para alavancar a pessoa acaba por provocar raiva ou mágoa, por ter falado daquele jeito, por ter usado determinados termos e exemplos.

Um erro comum neste sentido é partir para o julgamento. Descreva comportamentos, por exemplo, e não julgue comportamentos. O ponto primordial é ser exato, preciso e específico, a fim de que o outro possa entender exatamente o que precisa ser trabalhado.

Há muitos artigos que valorizam o potencial do feedback positivo. E sem dúvida tem um efeito construtivo a se considerar na motivação, no engajamento e até no desenvolvimento dos funcionários. Entretanto, na prática do feedback os dois pontos devem ser levantados, tanto os aspectos positivos como o que precisa melhorar, para a melhor eficácia do processo.

Conclusão:

Para se promover a cultura do feedback, pontos cruciais devem ser levados em consideração:

  • É preciso haver um genuíno interesse pelo desenvolvimento do outro para que o feedback aconteça de forma enriquecedora.
  • A equipe está madura o suficiente tanto para dar como para receber feedback? Essa via de duas mãos (quem dá feedback também recebe) é mais forte e potente.
  • Maturidade e confiança são condições sem as quais não se pode estabelecer a cultura do feedback em uma empresa ou organização.
  • A intenção e a forma são dois cuidados permanentes quando se está em uma conversa. Neste sentido, é preciso ter cuidado com palavras, termos e exemplos e, sobretudo, não julgar.
  • O feedback deve ser específico e objetivo.
  • Para ser efetivo, dois aspectos devem ser mencionados: o feedback positivo e o que se precisa melhorar.
  • Praticar essas conversas de feedback e avaliar, em um fluxo contínuo, é o caminho para aprimorar a prática do feedback.

Sua empresa precisa aprimorar a prática do feedback?

Certamente, a cultura do feedback – como se faz, como se recebe ou como se aplica – são desafios enfrentados pelos gestores mundo afora. Muitas vezes é preciso se aprimorar nesta técnica para que possa ser exercida de forma a trazer os resultados pretendidos.

O CEOlab oferece o workshop “Treinamento aprofundado para a prática de feedback”, voltado para líderes e funcionários de qualquer nível. É formatado para grupos de até 17 pessoas e tem duração de um dia ou um pouco mais, dependendo das necessidades do grupo. Após o workshop, os participantes recebem um manual com questões genéricas e exemplos que foram abordados no treinamento ou vivenciados na prática pelos mentores do CEOlab durante os anos de experiência na liderança de organizações e empresas.

Para mais informações, entre em contato pelo e-mail: paulo.ferro@ceolab.net

*Paulo Henrique Ferro é cofundador e consultor sênior do CEOlab; atua como mentor, coach PCC e mediador organizacional.

“Gestão por Silo” versus “Gestão a serviço do Todo”

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Por Paulo Henrique Ferro*

“Gestão por Silo” versus “Gestão a serviço do Todo”
Silo X Whole

A administração nos últimos 100 anos tem sido profundamente influenciada pelo Taylorismo, que é alicerçado em conceitos científicos, cartesianos que separam mente e corpo e que na essência tem uma proposta de aumento de output e redução de custo. É visível o salto de desenvolvimento no que tange a ganhos de produtividade e eficiência que isto trouxe.

Entretanto a partir dos anos 80 este sistema começou a dar sinais de esgotamento, com a rapidez na difusão destas técnicas a competição ficou fortemente ancorada no preço, na redução de margens a na comoditização dos produtos e serviços. A partir destes sinais começou a ficar claro que uma Empresa de sucesso, sustentável no tempo deveria estar preparada para produzir bens e serviços além de diferenciados “singulares” únicos e acima de tudo que oferecessem um conceito inserido uma experiência e não apenas uma simples ideia materializada. Além disto, vendendo a setores também “singulares” do mercado que demandem algo além do que é perceptível, um “Valor”, não apenas o monetário, uma “Experiência”. Poderíamos chamar este movimento de “descomoditização” dos bens e produtos e dos mercados.

Hoje já na segunda década do século XXI este movimento já é uma realidade e podemos perceber o abismo que há entre estas duas propostas em termos práticos.

Emprestando os valiosos pensamentos de Zygmunt Bauman, esta mudança está muito alinhada ao conceito que ele desenvolveu da “modernidade líquida”. Os líquidos vão aonde querem e ocupam os espaços, tudo virá com uma dificuldade e complexidade apreciável, para ser entendido e ser contido em formas e modelos mais definidos e controláveis. Bem diferente da até então “realidade sólida” compacta mais fácil de ser entendida contida e controlada em seus limites.

Na busca de um novo modelo para tomar o lugar desta realidade do passado, adepta e caracterizada pela “Administração por Silo”, várias vertentes de um novo modelo estão emergindo nos últimos anos e que podemos chamar da “Gestão a serviço do todo”. Uma abordagem significativamente diferente, demandando órgãos de percepção do mundo e das individualidades muito mais apurados, se comparada com o que tínhamos antes.

Assim como nos sólidos os átomos estão próximos e por esta proximidade transformam o todo em algo rígido, forte, previsível e nada flexível, no liquido seus átomos estão mais distante tornando a ligação entre eles mais tênue dando características fluidas e mutáveis, ao todo.

Na administração por Silo todas as funções do negocio ficam contidas em áreas estanques que tem como missão primordial maximizar aquela função, conhece-la em profundidade a ponto de alcançar a excelência. A esta altura já cabe uma pergunta: a maximização das partes nos leva a maximização do todo?

Em uma organização nos tempos atuais temos uma questão, estas áreas, ou Silos se preferirem, têm que se comunicar em vários sentidos, intensa e rapidamente uma vez que estamos passando a atuar em redes. Assim como em um simples sistemas de caixas d’água, a física e a natureza trata de que o nível da agua delas seja igual, se transportamos esta imagem para organização, considerando que este nível representa o potencial da organização em produzir resultados, estaria ele em sua plenitude? Podemos eleva-lo? Ou se o elevarmos uma das caixas transbordará ?

A modernidade liquida sugere uma organização que flui, ágil, em conexão com o todo. Tomemos aqui o nosso corpo como arquétipo, as relações entre nossos órgãos são intensas, continuas e o nível de intensidade que os órgãos trabalham são ajustados à demanda quase instantaneamente, e quando um órgão está em crise os demais, em maior ou menor intensidade saem em socorro (em uma ação colaborativa e não competitiva). O coração envia mais sangue para este órgão, o corpo como um todo reage de maneira articulada e orquestrada produzindo febre para apoiar o órgão em problemas. Não existe a possibilidade do nosso corpo ter febre só nos pés, não é verdade? Mas nas organizações é comum ouvirmos; temos problemas na área de vendas, vamos tratar de resolvê-lo com modificando a estrutura de vendas, demitindo ou contratando, talvez esta seja a “dipirona” que talvez faça passar a febre, mas não endereça a causa. Existe um dito leigo sob ponto de vista da biologia que diz; todos os órgãos que temos dois (ex. rins, pulmão) trabalha próximo da capacidade máxima, entretanto aqueles que são únicos (ex. coração, fígado, pâncreas) trabalham bem abaixo da capacidade máxima, verdade ou não, faz sentido, nosso organismo se preocupa com o todo e aí voltamos a pergunta será que “maximizando as partes maximizamos o todo?

Um dos aspectos significante do sistema da “Gestão a serviço do Todo” é que as métricas genéricas, não mais dominam o painel de gestão. É claro que aquelas ligadas aos aspectos financeiros continuam sendo fundamentais para a condução dos negócios. Entretanto as métricas de maneira geral não estarão mais a serviço das tomadas de decisão de maneira direta. Precisamos de um “set” complementar de indicadores para compreendermos melhor nossa organização e nosso negocio.

Elas deverão cumprir um papel adicional e de natureza bem diferente, o de decodificar as sutilezas que permeiam o negocio nas suas dimensões mais sutis tais como: a Identidade, o proposito, os valores e como e o que na essência faz o empreendimento ser único no papel de oferecer e entregar uma experiência única ao cliente, de conter um conceito “desejado” pelo mercado, de medir nosso conhecimento e nossas competências, tudo isto estará a serviço dos resultados medidos tradicionalmente por: margens, EBITDA, ROI, EVA etc. A tabela abaixo apresenta alguns dos Drivers essenciais dos negócios, nas duas vertentes e dá uma ideia do salto que os modelos mentais terão que dar para fazer frente a esta mudança e enfrentar a “modernidade liquida”.

ceolab

Urge entender que este processo de mudança está nos tomando de assalto, às vezes sem que percebamos. Urge que Lideres, Boards e Organizações como um todo se apercebam desta mudança e se preparem. Urge que “afinemos” nossos órgãos de percepção do mundo dos negócios, para sermos capazes de dar as repostas corretas às demandas que estarão chegando e de criar o novo, que nem o próprio mercado conhece ou espera. Esta mudança só será possível a partir da mudança dos modelos mentais dos principais protagonistas envolvidos.

Não seria esta uma agenda de Governança para as empresas se prepararem para este futuro que já se encontra em nossa sala de visita?

Paulo H Ferro
*Mentor, Coach, Mediador Organizacional e Consultor em DO no CEOlab.
paulo.ferro@ceolab.net

Quem está roubando meu tempo?

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Por Paulo Henrique Ferro*

A vida digital nos poupa muito tempo e cada vez mais estamos mais assoberbados. Onde está este tempo?

É interessante resgatar algumas coisas do nosso cotidiano que existiam há bem pouco tempo como: office-boy, mensageiros internos, caneta tinteiro, telex, fax, máquina de escrever, cópia carbonada, mimeógrafo, correio interno, caixa de entrada e caixa de saída, duplicatas, borderôs e mais uma série enorme de atividades ou dispositivos que hoje já não fazem parte das nossas vidas corporativas ou até pessoais.

Praticamente tudo desapareceu como resultado da era digital, ela revolucionou nossas atividades e nossos hábitos no trabalho e até na vida pessoal.

Muitos destes itens, e outros não relacionados, tomavam um tempo enorme do nosso dia e pior em atividades muitas vezes pouco ligadas com a essência dos negócios, dos clientes e das nossas vidas.

Uma constatação no mínimo intrigante é que apesar de fazermos tudo mais rápido e com mais precisão nesta era digital, as pessoas estão mais assoberbadas e carregadas de trabalho do que antes.

A pergunta é: o que fazemos neste tempo que passou a sobrar?

Para você ter uma ideia, relacione que tipo de atividades você fazia antes e não faz mais, e observe para onde migrou o tempo que passou a “sobrar”. Este balanço é interessante para sabermos se o tempo que ficou disponível está sendo usado de maneira a agregar valor ao nosso trabalho ou não.
Ele pode também nos dar pistas do que pode ser abandonado, o que precisa ser agregado ou o que precisa ser ajustado e é claro o que tem que ser mantido.

Independente de um levantamento mais organizado podemos ter uma noção intuitiva de alguns destinos prováveis de para onde foi este nosso tempo.

Algumas possibilidades que pode ter nos levado a esta situação.

  • As Ferramentas que vieram junto com a era digital nos fez mergulhar em uma quantidade muito grande de informações, a análise e processamento dessas informações nos tomam muito tempo e muitas não agregam nada ao meu trabalho gerando ainda mais trabalho.
    Você toma o cuidado de filtrar informações e distinguir o que é relevante e que agrega valor no seu trabalho?
  • Com a redução do tempo de execução de tarefas pode ter se reduzido o contingente humano de maneira desproporcional, superestimando a capacidade dos envolvidos para realizar as tarefas sobrecarregando-os.
    Você tem consciência da carga de trabalho que as pessoas têm para lidar com as tarefas que lhe compete hoje? Ela está compatível?
  • Seduzidos pela facilidade, passamos a navegar freneticamente na periferia das questões, esquecendo-se da essência que as envolve e que deve estar sempre no centro de nossas atenções, fazendo com que percamos tempo como que girando em circulo.
    Em que atividades você se vê envolvido pelo prazer de executá-las mais do que pela necessidade.
  • Substituiu-se a relação pessoal pela comunicação eletrônica, uma conversa telefônica de 5 ou 10’ se transformada em e-mail ou mensagens pode se desdobrar em dezenas de interações por estes meios, tomando tempo para leitura, processamento e resposta.
    Analise seu correio eletrônico pela manhã e veja quantas mensagens poderiam ser evitadas se uma conversação houvesse se estabelecido previamente?

A verdade é que em muitos setores estas facilidades oferecidas pelo mundo digital desconcentrou as pessoas do verdadeiro foco do negócio e do cliente. Roubando aquele tempo que havia sido poupado.

Não se pode negar entretanto que vários aspectos do nosso cotidiano foi melhorado e facilitado, a pergunta é: o balanço é em nosso favor? Ou seja este tempo “roubado” está sendo retornado efetivamente em melhores processos? E principalmente em benefícios do nosso cliente?

Estes pontos pretendem ser, apenas um disparador de reflexões a respeito, muitos outros estão permeados em nossas atividades.

O que você acha? O que mais rouba o seu tempo? E onde eu deveria me preocupar em alocar este tempo que me “sobra hoje?

Paulo Henrique Ferro
*Mentor, Coach, Mediador Organizacional e Consultor em DO no CEOlab.
paulo.ferro@ceolab.net