Por Ronaldo Ramos
Você foi promovido, recebeu um novo desafio e sentiu aquela dorzinha de barriga (que os gringos chamam de borboletas no estômago), ou ainda um friozinho na espinha?
Não se considera merecedor do novo desafio profissional?
Ou acha que foi questão de sorte, que estava disponível na hora certa, no lugar certo?
Tem medo de estar enganando alguém, de não dar conta do trabalho?
Tem dúvidas sobre se é competente mesmo, ou o quão competente realmente é?
O questionamento é fundamental para crescer, ser humilde e aprender cada vez mais.
Contudo, se você sempre acha que o reconhecimento profissional foi além da sua capacidade de realização, pode estar sofrendo da Síndrome do Impostor.
No mundo de hoje, onde as pessoas são muito atarefadas, buscam a excelência em todas as atividades e têm alta exposição virtual, é natural o desenvolvimento desse tipo de sentimento. Sim, sempre haverá alguém mais capacitado, melhor relacionado, mais experiente que você.
Entretanto, isso não deve ser um problema, mas uma oportunidade. Ninguém está 100% preparado para nada. O importante é demonstrar interesse, resiliência, vontade de aprender, de abandonar antigas verdades, boa vontade, humildade e dedicação, que são os fatores necessários para a adaptação em uma nova posição.
A síndrome do impostor é a sensação forte e constante de que você não merece o status que alcançou durante sua carreira, de que fez alguma coisa errada e está prestes a ser desmascarado, perdendo o reconhecimento que tinha. Mesmo que exista um histórico de realizações, quem é acometido por essa síndrome credita cada sucesso à sorte, a alguma ajuda externa ou às circunstâncias. Essas pessoas tendem a justificar seus sucessos.
Por outro lado, quem sofre de síndrome do impostor irá reconhecer como merecidos seus fracassos: um artigo rejeitado de forma grosseira, uma avaliação ruim numa disciplina.
Alguns dos mais bem-sucedidos profissionais da história sofreram do medo secreto de serem péssimos em seus trabalhos. “Eu não sou um escritor. Tenho enganado a mim e outras pessoas”, escreveu John Steinbeck em seu diário em 1938. “Sempre me senti como alguma impostora. Eu não sei o que estou fazendo”, disse a atriz Jodie Foster em um evento no qual era a convidada de honra. Essa insegurança induzida pela ansiedade pode ser, na verdade, um ativo.
Estima-se que 70% das pessoas têm síndrome de impostor, o sentimento de que não merecem estar onde estão na vida. Evidências sugerem que a síndrome do impostor está relacionada ao sucesso – e que as verdadeiras fraudes não sofrem de baixa autoestima profissional. As pessoas bem-sucedidas que duvidam de sua capacidade tendem a ser perfeccionistas, o que significa que podem passar horas trabalhando a mais para ter certeza do bom resultado. Então, as chances de o trabalho ser muito bem feito são grandes.
Outro dia ouvi falar de um conceito interessante aplicado a segurança de processos industriais… Que podemos aplicar aqui por um instante. É conhecido como “chronic unease”, ou em tradução livre algo como “inquietude crônica”. Um grau de inconformismo com a situação atual, a capacitação, ou mesmo com o ambiente à sua volta, que promove uma saudável e constante avaliação crítica do que é relevante e adiciona valor, e por consequência daquilo que pode ser eliminado ou alterado.
A inquietude pode ser um grande dom, se bem domada e aplicada com moderação.
Então, se você ja se sentiu uma fraude, pouco merecedor de uma promoção, de um elogio, e questionou suas competências, pode se considerar normal e voltar ao trabalho, certo?
Ronaldo Ramos
*Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net