A competitividade dentro das nossas empresas

Image courtesy of Ambro at FreeDigitalPhotos.net

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Por Ronaldo Ramos*

No último artigo, conversamos bastante sobre a competitividade do mercado em geral. Agora, gostaria de falar um pouco sobre alguns setores que estão perdendo mercado e também a questão da competitividade com a perspectiva interna das empresas.

A situação da indústria do alumínio hoje exemplifica a perda de competitividade de um setor que já foi responsável por significativa participação na balança comercial brasileira e pelo desenvolvimento de uma importante cadeia de valor, que se inicia na geração de energia e na mineração e termina em meios de transporte exportados para o mundo todo.

Possui ainda ramificações nas indústrias de embalagens, construção civil, transportes, transmissão de energia e com apelo enorme de sustentabilidade pela capacidade de reciclagem que o metal tem.

Nos últimos 15 anos, o custo da energia para a indústria passou de 16.7 dólares por MWh para 61.2 dólares por MWh, passando por um pico de 80.7 dólares por MWh.

Um aumento assustador para qualquer setor que seja altamente dependente de uma matéria prima!!! Aproximadamente metade desse custo é composta por tributos de diferentes naturezas.

Nesse mesmo período, a produção brasileira de metal primário caiu do nível de 1.4 milhão de toneladas por ano para algo em torno de 500 mil toneladas. A diferença necessária para equilibrar o consumo interno, a ser obtida por meio de importações, poderá provocar uma profunda transformação nessa indústria.

A competitividade brasileira da cadeia de valor do alumínio está sendo brutalmente afetada e alguns setores poderão desaparecer nos próximos anos. Alguns já desapareceram, como o setor de aparelhos de ar condicionado. Perdemos volume, mercado, custo e o acesso às tecnologias de alto valor agregado quando se fala em redução da emissão de gases efeito estufa, por exemplo.

Precisamos como empresários, desenvolver agilidade estratégica e habilidade multicultural, trabalhando sempre com planejamento detalhado que inclua cenários alternativos locais e internacionais e, simultaneamente, na preparação para atuar e modificar planos rapidamente. Não quero aqui justificar a cultura do improviso, mas justamente o contrário! Em tempos de mudanças, todo o planejamento é pouco!

Há setores brasileiros que também experimentam estagnação geral por conta da publicação de marcos regulatórios imprecisos ou sem consulta à sociedade como um todo que aumentam a percepção de risco país e acabam empurrando investimentos estrangeiros para outras praias mais previsíveis… Como por exemplo, o setor de mineração e, em certa dose, o setor de óleo e gás. Perdemos competitividade na capacidade de atrair novos investidores por gerarmos insegurança no investidor e dificuldades burocráticas e tributárias muitas vezes vistas como absurdas por outras culturas.

Passemos agora a pequenos comentários sobre como nos organizamos para fazer negócios com outros povos…

– Nossa associação ao Mercosul, se por um lado garante bom relacionamento comercial com nossos vizinhos mais próximos, por outro lado torna nossa vida mais difícil quando se trata de estabelecermos acordos bilaterais de comércio e cooperação com países que teriam muito a contribuir com nosso desenvolvimento.

Muitos potenciais investidores estrangeiros se perguntam por que o Brasil ainda não se convenceu a buscar ou não logrou assinar um acordo bilateral com países como o Canadá, que certamente têm muito em comum conosco, a começar pela longa história de investimentos e trocas comerciais em várias áreas. Para compensar essa distorção, consultores se especializam em “match making”, ou seja, na busca e aproximação de empresas que tenham objetivos complementares ou que apresentem importantes sinergias de cooperação, apesar das dificuldades burocráticas que o Brasil apresenta.

Procuram encorajar potenciais investidores estrangeiros a entender o nosso ambiente de negócios, e prepará-los para os choques inevitáveis, como a burocracia e a saga de abrir uma empresa!!! São 60 dias de infortúnio e purgatório! Uma ajuda ainda mais eficaz é criar a oportunidade para conversas com aqueles empresários que foram bem sucedidos na empreitada, indicando quais são os caminhos a percorrer.

Com relação às nossas empresas, o que podemos fazer para aumentar nossa competitividade e nossa produtividade?

Em primeiro lugar, valorizar a qualidade e a capacidade de engajamento de nossa mão de obra, cuidando dos elementos fundamentais:
– saúde ocupacional, segurança, higiene, meio-ambiente e ambiente de trabalho. Parece mais custos e mais investimentos, mas posso dizer que os retornos são impressionantes! Produtividade começa aqui, quando mostramos sinceramente aos nossos colaboradores que nos preocupamos genuinamente com eles e que lideramos pelo exemplo e não pela transferência da responsabilidade… O retorno vem em maior engajamento, menor turn over, menor absenteísmo, capacitação crescente, e melhoria do ambiente de trabalho, além de um importante fator de relacionamento com comunidades por conta da influência positiva sobre as famílias de empregados e contratados.

Em seguida, investindo na melhoria contínua, no aprimoramento das práticas de gestão, e na flexibilidade dos contratos de trabalho. Precisamos e devemos ser criativos aqui, e ter capacidade de trabalhar junto às comunidades e stakeholders que, de fato, fazem a diferença.

Benchmark, benchmark, benchmark… Quanto mais, melhor! Todos os dias, não só internamente – se tivermos mais de uma unidade de operações -, como externamente, no Brasil e no mundo. Humildade para aprender e compartilhar, dentro dos limites da ética e da legalidade.

Planejamento robusto e disciplinado, que inclui até a busca do autoconhecimento dos líderes das empresas.

Representatividade do setor… Nem precisamos falar muito sobre isso, mas continua um fator-chave.

Ética na condução dos negócios, e no relacionamento com parceiros dentro da cadeia de valor… Precisamos entender claramente o lugar que ocupamos na cadeia e como melhor podemos nos apropriar do valor que geramos.

Melhoria de processo, melhoria da qualidade, segurança na comunicação com stakeholders, expansão, preparação da sucessão para empresas familiares, preparação para um mundo onde a demanda cresce e o preço diminui!

*Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net

Questões relevantes para a competitividade

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Por Ronaldo Ramos*

A melhoria da nossa capacidade competitiva se baseia essencialmente em alguns elementos ou pilares. Dentre eles, a troca de informação, a busca de melhores práticas, e a humildade de inovar não apenas pelo desenvolvimento de novas ideias, mas também pela investigação sistemática de “quem está fazendo melhor do que nós?”, “como eu posso fazer melhor o que eu fazia até ontem?”, “quais são meus novos competidores?”, ou “como eu posso copiar e melhorar?”.

Não tenho receio em utilizar o termo “humildade” por reconhecer a complexidade dos assuntos ligados à competitividade, especialmente num mundo empresarial onde os desafios são muitos:

  • a) Enfrentamos dificuldades em obter fontes de financiamento pelos canais tradicionais;
  • b) Necessitamos gerenciar da melhor forma possível os custos operacionais, os orçamentos e a execução de novos projetos;
  • c) Vivemos uma mudança substancial na qualidade da mão de obra com importante ruptura nas expectativas e nas formas de atuação das gerações mais jovens;
  • d) Onde o engajamento acontece por projetos e não mais pelo sonho de pertencer a uma organização ou de fazer carreira em uma única empresa;
  • e) Uma era de contínua consolidação de organizações sejam elas indústrias, serviços ou terceiro setor, e do aparecimento de novas tecnologias ou modelos de negócios que podem fortalecer nossa competitividade ou simplesmente decretar nosso “falecimento” empresarial;
  • f) Onde existe competição crescente por recursos naturais e uma tendência de sua nacionalização, como por exemplo uso da água, geração de energia e acesso aos combustíveis alternativos;
  • g) Onde a sociedade em seus vários segmentos se esforça para ser ouvida e ter suas expectativas e anseios atendidos;
  • h) E não menos importante, exige que nós como comunidade empresarial amadureçamos, saiamos da cultura do país do ufanismo, do futebol, do jeitinho, da graça, do improviso e da vantagem individual e caminhemos em direção ao planejamento conjunto, estruturado, consciente, abrangente e politicamente responsável;
  • i) Onde as famílias deixaram de nutrir o sonho de ter seus filhos engajados na política e na ação comunitária responsável;
  • j) Há necessidade de coragem para compartilhar conhecimento, trabalhar em time, entender a inserção de nossos negócios em nossa cadeia de valor e globalizar o entendimento para tentar antecipar as tendências e as novas ameaças;

E como isso tudo pode representar uma tarefa simples, a ponto de, inconscientemente, deixarmos que ela seja em sua maioria delegada ao governo?
Gosto muito de chamar a atenção em minhas conversas com colegas, amigos e clientes, sobre a diferenciação entre duas categorias de problemas – os complicados e os complexos.

Entendo por problemas complicados aqueles que representam situações onde conseguimos, com relativo sucesso, identificar as variáveis independentes que atuam sobre nossos modelos de realidade. E ainda que quando conseguimos isolar estas variáveis, entendemos o impacto de cada uma no resultado final. Podemos assim dividir o problema original em problemas menores, procurar a solução para cada uma das partes e depois combiná-las para se chegar à solução do problema maior.

De vez em quando podemos até improvisar, acomodar, “tropicalizar”, ou utilizar outras palavras da nossa cultura que de fato significam “deixar acontecer”, deixar a atividade de planejamento em segundo plano, e adotar um olhar menos investigativo e profundo.

Encarar os grandes obstáculos ao desenvolvimento da competitividade brasileira passa pelo entendimento de que o problema da competitividade é de natureza complexa. Sabemos que não temos mais variáveis independentes e que não podemos utilizar os métodos cartesianos de tratamento… As variáveis estão todas inter-relacionadas, interdependentes, e seus impactos no resultado final são muito difíceis de serem antecipados, exigindo alto grau de sofisticação, planejamento e engajamento dos diversos stakeholders.

No próximo artigo, vamos discutir um pouco a questão da competitividade dentro das empresas e também de alguns setores que estão perdendo espaço no mercado atual.

*Fundador do CEOlab e professor associado da FDC.
ronaldo.ramos@ceolab.net

MENTORIA

MENTOR_ARTIGO RONALDO_FONTE SHUTTERSTOCKPor Ronaldo Ramos*

Recentemente um artigo publicado no blog do “Management Mentors”            (http://www.management-mentors.com/about/corporate-mentoring-matters-blog) prendeu a minha atenção pela simplicidade de enfoque e também por relatar observações que em grande parte estão presentes em meu cotidiano.   Por esta razão vou me permitir comentar o artigo aqui e complementá-lo com minha experiência.

O artigo propõe compartilhar 5 ideias que funcionam muito bem nas relações de mentoria.

As duas primeiras ideias estão ligadas ao objetivo de criar um ambiente no qual podem ser compartilhados tanto sucessos quanto fracassos.

Quando contamos nossas histórias de sucesso ressaltamos quase sempre nossos pontos fortes e nossas habilidades principais, sejam de conhecimento técnico ou de aptidões para liderança, persuasão e relacionamento interpessoal. Também mostramos nossa capacidade de identificar oportunidades e de enfrentar crises e riscos com criatividade.

Menos frequentemente podemos observar também pontos a desenvolver como, por exemplo, a tendência de aplicar sempre o mesmo conjunto de ferramentas para resolver todos os problemas, simplificando a fase de diagnóstico e formulação.

Prefiro focar mais nos pontos fortes, pois são eles os responsáveis pelo nosso sucesso. Fica mais fácil assim motivar o mentorado enquanto desenvolvemos em paralelo a sua habilidade de diagnóstico, formulação e validação de problemas.

Compartilhar o fracasso, por outro lado, propicia ao mentorado uma nova oportunidade de reviver a situação e refletir sobre o aprendizado em si, juntamente com o processo que permite aplicar os conhecimentos obtidos em novas situações. Compartilhar um fracasso, portanto, pode abrir nossos olhos para pontos fortes eventualmente subavaliados. Além disso, fortalece a relação de confiança com o mentor e a sua resiliência ao perceber que errar é uma condição humana.

Em seguida podemos agrupar outras duas ideias da seguinte forma: combinar o compartilhamento de um desafio atual com a discussão sobre o futuro – onde você gostaria de estar em três anos e como planeja chegar lá?

Olhar com profundidade para os desafios pessoais pode indicar um caminho para definir objetivos de mentoria, pois podemos estabelecer áreas onde o mentor pode compartilhar suas experiências, sucessos e fracassos da mesma forma. O desafio pode ser como lidar com superiores, pares ou subordinados, ou ainda como sintetizar ideias para organizar uma apresentação de negócios, ou ainda como testar um projeto que ainda está em fase embrionária. Todos estes assuntos que já foram vividos por um mentor experiente podem se transformar em tópicos para o programa de mentoria. Este inclui ferramentas várias, e no caso particular do CEOlab utiliza os três pilares fundamentais – diagnóstico rápido, formulação de problemas e sua validação, conversa empática e investigativa, e pensamento multicultural e multidisciplinar.

A pergunta “onde quero estar em três anos e como espero chegar lá” pode da mesma maneira indicar um portfólio de opções que norteará o trabalho conjunto de mentoria. Pode também facilitar a seleção de cursos, livros e projetos enriquecedores. Com ajuda do mentor, esta busca pode ser estruturada e dividida em elementos mais fáceis de se trabalhar.

E por falar em livros, aqui vai a última ideia abordada no texto – qual foi o livro que você leu recentemente e como foi impactado por ele? Novamente aqui, a troca entre mentor e mentorado se coloca como fundamental.

Valores globais da nova liderança

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Por Ronaldo Ramos*

Muitas das inovações tecnológicas utilizadas por nós atualmente foram previstas por autores de livros de ficção e pela indústria cinematográfica. Embora nem todas as visões retratadas tenham se concretizado – como a tão abordada viagem no tempo, que carece de embasamento científico –, algumas estão causando mudanças radicais na sociedade, com acesso a conhecimentos privilegiados.

O Fórum Econômico Mundial já anunciou a classe de Jovens Líderes Globais de 2015. A maioria em seus 30 e poucos anos, 187 indivíduos são paradigmas tradicionais de liderança desafiadora para trazer mudanças positivas ao mundo: a vanguarda que chega para antecipar as necessidades do futuro e os novos comportamentos da força de trabalho.

A responsabilidade tem o tamanho do conhecimento e eles sabem disso. Como grande parte da tecnologia de 30 anos atrás tornou-se obsoleta, esses jovens estão provando que os estilos de liderança dessa época também ultrapassaram o respectivo prazo de validade. Gestão por medo, hierarquias rígidas, locais de trabalho dominados por homens brancos e pensamentos preconceituosos são cada vez mais anacrônicos nos tempos atuais.

A questão está em como reverter os excessos do capitalismo e evitar as loucuras do comunismo. Para um grupo de pesquisadores, os países emergentes serão os principais centros de transformação. Seguem a seguinte linha de raciocínio: em mercados já estabelecidos, é mais difícil mudar as diretrizes corporativas, pois o poder econômico pode desacelerar as mudanças ou mesmo levar inovadores a pagar pesadas multas. Já em novas nações, como Brasil e Índia, ainda há muito espaço para o desenvolvimento das empresas, o que tornaria a mudança para um modelo de gestão inovador mais fácil e rápido, a despeito de ideologias políticas retrógradas e totalitárias ou de fanatismos religiosos.

Esta geração de líderes difere em termos de gênero e nacionalidade, seu trabalho atravessa as divisões tradicionais entre os setores e eles adotam posturas criativas para problemas difíceis. Abordagens multidisciplinares, empáticas, multiculturais, pensamentos laterais e flexíveis, quebras de paradigmas e vontade de compartilhar conhecimento e riqueza. São leitores ávidos, com espírito crítico, vocabulário renovado, capazes de se expressar de outra maneira, de gerar soluções – não apenas para um mundo diferente, mas para este em que ainda vivemos. Os jovens líderes da classe de 2015 estão provando a importância de cinco pontos-chave para a condução da liderança:

1) Transparência radical: a tecnologia e a velocidade de comunicação têm aumentado a importância de cada um de nós. Os líderes no mundo de hoje percebem que tudo o que dizem, fazem e compartilham pode ser tornado público. Os autênticos vão brilhar nesta era e incentivar seus funcionários e organizações a viver e trabalhar com transparência e mente aberta. Cada vez mais, isso é importante especialmente na esfera governamental. A função do estado, os sistemas de governo, a relação entre governo e iniciativa privada, os sistemas financeiros e os sistemas legais terão de se adaptar mais rapidamente aos anseios da sociedade.

2) O poder de trocar: a sua organização está funcionando meramente como a soma de suas partes? Ou você está favorecendo um local de trabalho de apoio mútuo e troca para concretizar as ambições mais elevadas? Os líderes estão colocando essa filosofia em ação com as organizações, comunidades e redes em todo o mundo. Como harmonizar essas novas tendências ao atual capitalismo, que continua gerando milionários inovadores sem responsabilidade social?

3) Conflitos construtivos: desavenças chegam a romper sociedades. Quando tratada de forma construtiva, no entanto, a discordância também pode ser uma fonte de compreensão, empatia e novas soluções para questões desafiadoras. Como desenvolver times que utilizam o respeito à diversidade e que podem convergir inteligentemente tanto no intelecto quanto emocionalmente, priorizando a sustentabilidade?

4) Líderes trissetoriais: os desafios globais de hoje são complexos, interrelacionados e exigem a colaboração entre governo, empresas e sociedade civil, além de atravessarem as fronteiras culturais. Quase todos os Jovens Líderes Globais da turma de 2015 viveram, estudaram e trabalharam em diferentes países; muitos deles falam vários idiomas; e grande parte representa o tipo trissetorial necessário para resolver os problemas intratáveis do mundo.

5) Além da linha de atuação: bem-sucedidos em suas áreas de especialização, os novos lideres estão dedicados a fazer uma contribuição para a sociedade de forma mais ampla. Seja em setores privados ou públicos, acadêmicos ou midiáticos, eles se consideram os empreendedores “sociais em espírito”. O que justifica a inclusão da dimensão espiritual no assunto sustentabilidade.

Esses pontos não vão apenas mudar a cultura de trabalho dos dias de hoje, mas criar as bases para os próximos 30 anos. Muitas tecnologias certamente irão, mais uma vez, alterar o curso da história humana. Poderemos estar vivendo em outros planetas, com máquinas assumindo nossos postos de trabalho, e os avanços nos ajudando a lidar com os desafios climáticos. De todas as conjecturas, temos uma certeza: a liderança mais construtiva, inclusiva, que abraça a diversidade e a transparência, será essencial para criar o tipo de futuro que queremos e precisamos. E você, já começou a refletir sobre as alterações nos contratos de trabalho e sua carga tributária? Em como vai negociar com seus colaboradores sobre os projetos e a distribuição do tempo?

Boas reflexões!

*Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net

Os conflitos gerenciais e a física – uma analogia vetorial

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Por Ronaldo Ramos*

Lembro-me perfeitamente da primeira vez em que ouvi a palavra “vetor”. E de como aprendi de maneira embaraçosa o seu significado. Foi na “aula inaugural” do curso de Engenharia, em trote dado por um veterano que se fez passar por professor e escreveu na lousa (sim, lousa!) uma lista de material na qual constava a “régua T circular” e uma “caixinha de vetores”. Não preciso dizer que fui até a loja da escola e apresentei os itens com a intenção de comprar tudo, para divertimento do atendente.

Hoje, muitos anos passados, procuro entender os diversos conflitos explícitos ou implícitos no ambiente de trabalho. E, principalmente, entre sócios, administradores e gestores, fazendo analogia com uma aplicação complexa, humana e gerencial da conhecida teoria de “cálculo vetorial”.

Vamos parar um minuto para entender o que seria um vetor e depois falarmos de “cálculo vetorial” e como prefiro olhar para conflitos como possíveis resultantes da soma de vetores diferentes.

Podemos partir do conceito da física e imaginar o vetor como uma flechinha ou um pedacinho de linha reta, no qual 3 principais características seriam consideradas:

1) A direção da flechinha ou, em outras palavras, em qual tipo de alinhamento, ideologia, princípio ou conjunto de princípios está a nossa intenção de caminhar, influenciar, provocar movimento;

2) A intensidade da vontade de caminhar, influenciar, provocar movimento naquela direção decidida anteriormente; pode ser um peso, uma dificuldade, um interesse particular, uma motivação, um engajamento, uma ambição. A parte “escalar” ou “módulo” do vetor;

3) O sentido dessa intenção de movimento, seja de oposição, apoio, distração, negativismo, otimismo, aversão ao risco ou promoção de novas iniciativas.

Agora, imagine os integrantes de um comitê executivo ou de um conselho gestor, um grupo de sócios ou apenas os membros de um clube em relacionamento com seus colegas: carregando, consciente ou inconscientemente (ou os dois) um conjunto de vetores com as características acima.

Como disse antes, esses vetores representariam alinhamentos próprios, ideologias, convicções, princípios, intensidades e motivações diferentes, pesos, histórias, ambições, habilidades, em diversos sentidos…

Bem-vindo ao mundo corporativo, ao mundo das associações, das organizações de trabalho, ao cálculo vetorial complexo, técnico e humano!

Seria muito fácil, e até um pouco sem graça, se conseguíssemos atribuir a cada profissional, sócio, colaborador, apenas um vetor todo o tempo. Todos seriam mais ou menos previsíveis e sempre apresentariam as mesmas posições, ambições e motivações.

Todos sabemos que as coisas não funcionam assim… Cada pessoa pode ser vista como um conjunto de vetores, com múltiplas ideias, desejos, percepções e culturas. Chegamos, então, por analogia, ao cálculo vetorial multidimensional!

A questão fundamental para os mentores é como prever o resultado da combinação (ou soma algébrica) de todos os vetores atuantes; a energia gasta pelo conjunto; e como trazer para a consciência dos participantes o seu próprio vetor e o impacto que causa no todo.

Para exemplificar, imaginemos um confronto de franca oposição. Os vetores teriam a mesma direção, intensidades diferentes e sentidos opostos. Nesse caso, embora a energia total gasta seja a soma dos esforços de cada um, o resultado final seria simplesmente a diferença entre as forças individuais, já que os sentidos são opostos e, assim, boa parte dos vetores se anulariam. Semelhante a uma situação de cabo de guerra.

A ideia é mostrar aos diversos agentes ou componentes de um grupo de acionistas, administradores e gestores que, de fato, não enfrentam um conflito de interesses ou, ainda, que atuam como soldados em batalhas ideológicas ao contrário: como diferentes vetores que devem ser compreendidos ao influenciar o resultado final. Dessa forma, podemos obter maior cooperação e entendimento e, em alguns casos, até maior empatia entre grupos aparentemente oponentes.

Esse enfoque mais racional e visual, talvez um pouco mais lúdico, de mostrar a importância de obtermos alinhamento e engajamento, vem demonstrando resultados práticos em minha experiência profissional com diversos agentes em empresas.

Vale a pena tentar!

*Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net