Menos privacidade em prol do coletivo

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Por Ronaldo Ramos*

A segurança, a comunicação, o transporte, a saúde e o trabalho – multidisciplinar e multicultural – em equipe dependem de algo em discussão constante pela sociedade: a falta de privacidade. É um paradoxo dos tempos atuais. Deixamos nossa residência e somos monitorados por câmeras públicas e privadas. Estamos registrados no mundo digital detalhadamente. E a biometria surgiu como o mais recente passo da tecnologia para autenticar nossa identidade.

Podemos questionar até que ponto o direito à privacidade individual interfere na garantia de proteção dos cidadãos e sua evolução, por conta de uma vigilância exercida por agentes muitas vezes desconhecidos. A sociedade sempre em observação foi preconizada pelo escritor inglês George Orwell no livro “1984”, publicado em 1949, que inspirou o título do reality show Big Brother. Apesar da abordagem futurista do autor considerar o controle da população por parte de um Estado totalitário, que reescreve a própria história e distorce fatos a seu favor – em que a individualidade e a liberdade de expressão são impossíveis –, vemos a mesma falta de privacidade ser fundamental e, por vezes, até benéfica em muitos aspectos nas sociedades democráticas nos dias de hoje.

Muitas vezes, são as imagens de câmeras de segurança que possibilitam a resolução de crimes e a punição de seus responsáveis. Hoje, temos uma “vigilância aprimorada” –descrita por Foucault na obra Vigiar e Punir. A noção de crime e seus correlatos provêm da organização das sociedades em modos diversos e crescentes ao longo do tempo, com o desenvolvimento de sua complexidade.

Londres, por exemplo, utiliza câmeras de circuito fechado de TV (CFTV) há anos para monitorar as ruas da cidade, o que permite aos policiais andarem pelas ruas sem portar armas de fogo. Nas 52 estações de metrô de São Paulo, a maior rede metroviária do Brasil, são quase cerca de 900 filmadoras instaladas para vigiar os passos dos usuários. No Rio de Janeiro, estima-se que aproximadamente 700 mil equipamentos gravem o cotidiano dos cariocas nas ruas, prédios, condomínios, bancos, supermercados etc. O que nos difere dos confinados do Big Brother é que, no Brasil, ainda não existe um sistema que agrupe todas essas imagens e informações.

Nem as crianças estão livres dos olhos de terceiros. Se antes uma babá eletrônica rudimentar resolvia o problema dos pais, hoje mãe tranquila é aquela que pode vigiar seus filhos quando quiser. Muitas escolas possuem câmeras para o acompanhamento dos pais pela Web. E filmadora em casa flagra absurdos, como uma babá que espanca o bebê, ou permitem interação remota com filhos para reduzir o estresse e a distância.

Sistemas de monitoramento existiam antes mesmo dos serviços de localização via satélite. Os celulares com tecnologia digital há muito podem ser rastreados pelas empresas de telefonia. É possível traçar um mapa do trajeto do usuário. O mesmo acontece com os cartões de crédito. Informações como renda, endereço e preferências pessoais do cliente, como os hábitos de compra por cartão de crédito passam a fazer parte do Big Data. Mesmo sem a garantia de que seus dados estão a salvo de hackers, as pessoas parecem dispostas a perder sua privacidade em nome de diversos benefícios, como segurança, facilidade de locomoção, acesso a entretenimento e saúde.

Comunicação

Indiscutivelmente, geramos quintilhões de dados por dia e estamos sob constante vigilância. O Facebook e o Google armazenam informações sobre seus usuários. Big Data, social media e algoritmos preditivos abrem um novo campo de discussão sobre privacidade. Uma empresa pode usar a imensidão de dados que dispõe sobre seus clientes para uma promoção que melhora significativamente a experiência dos consumidores, ou para prever tendências ainda não detectadas por outros métodos tradicionais de pesquisa de comportamento e intenção de consumo.

Na prática, qualquer um pode bisbilhotar a vida alheia. No entanto, os profissionais e as corporações dependem do tráfego de informações individuais e conjuntas para a divulgação e propagação de suas ações. Hoje, a principal mídia, sem dúvida, é a Internet. E estar fora de redes sociais como Facebook e LinkedIn significa abrir mão de inúmeras oportunidades de negócios e trabalho.

Mesmo assim, o Facebook perdeu mais de três milhões de usuários adolescentes – de 13 a 17 anos – entre 2011 e 2013, segundo pesquisa divulgada por uma empresa de consultoria em estratégia de tecnologia nos Estados Unidos, principalmente devido à vigilância por parte de familiares. Outro estudo feito pela University College of London (UCL) no final de 2013 mostrou que, na Europa, os jovens de 16 a 18 anos estavam migrando para outros aplicativos de troca de mensagens instantâneas, como o WhatsApp, por se sentirem menos expostos e mais direcionados.

As vantagens de ferramentas como o Facebook são inúmeras, e a facilidade de uso é muito grande. O que seus usuários precisam é estar atentos às características, para tirar o devido proveito da exposição e ter cuidado com a parametrização de uma privacidade adequada. Além disso, diante da perda de contas, é provável que o Facebook melhore ainda mais a abordagem para a segurança da rede.

Trabalho em equipe

Equipes virtuais precisam se organizar para promover produtividade. Quando uma pessoa é inserida no mundo corporativo, recebe diversos acessos para os sistemas e recursos necessários. Se por um lado o indivíduo ganha mobilidade, flexibilidade de horários de trabalho e possibilidade de trabalhar enquanto compartilha da companhia de familiares ou amigos, economizando energia no transporte e gastos com infraestrutura nos ambientes corporativos, esse fator dificulta a vida de usuários, que precisam administrar cada vez mais senhas corporativas, além das suas próprias, que vão desde o desbloqueio de smartphones até contas bancárias. Por isso, o mercado tecnológico vem mudando conceitos.

Um dos novos métodos adotados é a tecnologia de biometria, que permite acesso às informações por meio de sua digital, reconhecimento facial ou de íris – até mesmo para pagamentos. Isso gera uma sensação de segurança e, ao mesmo tempo, elimina a necessidade de memorização de senhas complexas. De qualquer forma, abrimos conscientemente mão da privacidade em troca da conquista de novas possibilidades e conforto.

Organização

A cidade de Boston fechou parceria com o app Waze, do Google, para coletar dados inseridos pelos usuários e utilizá-los no planejamento do tráfego para diminuir os engarrafamentos. São ações pontuais, como modificar o tempo de mudança dos sinais de trânsito em horários de muito movimento.

Os dados fornecidos pelo aplicativo já foram usados em um projeto por meio do qual os usuários podiam sinalizar onde havia carros parados em fila dupla, e o departamento de trânsito enviava agentes para advertir sobre a infração. O impacto na fluidez do trânsito foi enorme, o que deve dar origem a outras iniciativas semelhantes.

A grande tendência em certificação de identidades é o uso de tecnologias para a leitura biométrica da íris e da retina, duas informações que são únicas em cada ser humano e não podem ser fraudadas. As máquinas que fazem esse tipo de reconhecimento conseguem reproduzir imagens dos olhos em altíssima resolução e comparam as informações com um amplo banco de dados. A autenticação da íris é a usada em maior escala no mundo e tem sido apontada como a mais eficiente leitura biométrica.

Fortalecer as relações humanas é fundamental para tornar as equipes virtuais mais produtivas nas empresas, os cidadãos mais participativos na sociedade e os indivíduos conscientes ao administrar sua vida pessoal. Esse é o desafio da era tecnológica, em que a opinião tem espaço, mas a privacidade tornou-se um conceito dúbio, que também precisa ser constantemente vigiado. Em outras palavras, o poder agora se concentra fundamentalmente na disposição para a transparência – para o compartilhamento não só de informação, mas também das perguntas e inquietudes que nos movem para o entendimento da profunda conexão que existe entre seres humanos e o planeta em que vivemos. Um futuro cheio de surpresas e grandes transformações!

*Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net

A competitividade dentro das nossas empresas

Image courtesy of Ambro at FreeDigitalPhotos.net

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Por Ronaldo Ramos*

No último artigo, conversamos bastante sobre a competitividade do mercado em geral. Agora, gostaria de falar um pouco sobre alguns setores que estão perdendo mercado e também a questão da competitividade com a perspectiva interna das empresas.

A situação da indústria do alumínio hoje exemplifica a perda de competitividade de um setor que já foi responsável por significativa participação na balança comercial brasileira e pelo desenvolvimento de uma importante cadeia de valor, que se inicia na geração de energia e na mineração e termina em meios de transporte exportados para o mundo todo.

Possui ainda ramificações nas indústrias de embalagens, construção civil, transportes, transmissão de energia e com apelo enorme de sustentabilidade pela capacidade de reciclagem que o metal tem.

Nos últimos 15 anos, o custo da energia para a indústria passou de 16.7 dólares por MWh para 61.2 dólares por MWh, passando por um pico de 80.7 dólares por MWh.

Um aumento assustador para qualquer setor que seja altamente dependente de uma matéria prima!!! Aproximadamente metade desse custo é composta por tributos de diferentes naturezas.

Nesse mesmo período, a produção brasileira de metal primário caiu do nível de 1.4 milhão de toneladas por ano para algo em torno de 500 mil toneladas. A diferença necessária para equilibrar o consumo interno, a ser obtida por meio de importações, poderá provocar uma profunda transformação nessa indústria.

A competitividade brasileira da cadeia de valor do alumínio está sendo brutalmente afetada e alguns setores poderão desaparecer nos próximos anos. Alguns já desapareceram, como o setor de aparelhos de ar condicionado. Perdemos volume, mercado, custo e o acesso às tecnologias de alto valor agregado quando se fala em redução da emissão de gases efeito estufa, por exemplo.

Precisamos como empresários, desenvolver agilidade estratégica e habilidade multicultural, trabalhando sempre com planejamento detalhado que inclua cenários alternativos locais e internacionais e, simultaneamente, na preparação para atuar e modificar planos rapidamente. Não quero aqui justificar a cultura do improviso, mas justamente o contrário! Em tempos de mudanças, todo o planejamento é pouco!

Há setores brasileiros que também experimentam estagnação geral por conta da publicação de marcos regulatórios imprecisos ou sem consulta à sociedade como um todo que aumentam a percepção de risco país e acabam empurrando investimentos estrangeiros para outras praias mais previsíveis… Como por exemplo, o setor de mineração e, em certa dose, o setor de óleo e gás. Perdemos competitividade na capacidade de atrair novos investidores por gerarmos insegurança no investidor e dificuldades burocráticas e tributárias muitas vezes vistas como absurdas por outras culturas.

Passemos agora a pequenos comentários sobre como nos organizamos para fazer negócios com outros povos…

– Nossa associação ao Mercosul, se por um lado garante bom relacionamento comercial com nossos vizinhos mais próximos, por outro lado torna nossa vida mais difícil quando se trata de estabelecermos acordos bilaterais de comércio e cooperação com países que teriam muito a contribuir com nosso desenvolvimento.

Muitos potenciais investidores estrangeiros se perguntam por que o Brasil ainda não se convenceu a buscar ou não logrou assinar um acordo bilateral com países como o Canadá, que certamente têm muito em comum conosco, a começar pela longa história de investimentos e trocas comerciais em várias áreas. Para compensar essa distorção, consultores se especializam em “match making”, ou seja, na busca e aproximação de empresas que tenham objetivos complementares ou que apresentem importantes sinergias de cooperação, apesar das dificuldades burocráticas que o Brasil apresenta.

Procuram encorajar potenciais investidores estrangeiros a entender o nosso ambiente de negócios, e prepará-los para os choques inevitáveis, como a burocracia e a saga de abrir uma empresa!!! São 60 dias de infortúnio e purgatório! Uma ajuda ainda mais eficaz é criar a oportunidade para conversas com aqueles empresários que foram bem sucedidos na empreitada, indicando quais são os caminhos a percorrer.

Com relação às nossas empresas, o que podemos fazer para aumentar nossa competitividade e nossa produtividade?

Em primeiro lugar, valorizar a qualidade e a capacidade de engajamento de nossa mão de obra, cuidando dos elementos fundamentais:
– saúde ocupacional, segurança, higiene, meio-ambiente e ambiente de trabalho. Parece mais custos e mais investimentos, mas posso dizer que os retornos são impressionantes! Produtividade começa aqui, quando mostramos sinceramente aos nossos colaboradores que nos preocupamos genuinamente com eles e que lideramos pelo exemplo e não pela transferência da responsabilidade… O retorno vem em maior engajamento, menor turn over, menor absenteísmo, capacitação crescente, e melhoria do ambiente de trabalho, além de um importante fator de relacionamento com comunidades por conta da influência positiva sobre as famílias de empregados e contratados.

Em seguida, investindo na melhoria contínua, no aprimoramento das práticas de gestão, e na flexibilidade dos contratos de trabalho. Precisamos e devemos ser criativos aqui, e ter capacidade de trabalhar junto às comunidades e stakeholders que, de fato, fazem a diferença.

Benchmark, benchmark, benchmark… Quanto mais, melhor! Todos os dias, não só internamente – se tivermos mais de uma unidade de operações -, como externamente, no Brasil e no mundo. Humildade para aprender e compartilhar, dentro dos limites da ética e da legalidade.

Planejamento robusto e disciplinado, que inclui até a busca do autoconhecimento dos líderes das empresas.

Representatividade do setor… Nem precisamos falar muito sobre isso, mas continua um fator-chave.

Ética na condução dos negócios, e no relacionamento com parceiros dentro da cadeia de valor… Precisamos entender claramente o lugar que ocupamos na cadeia e como melhor podemos nos apropriar do valor que geramos.

Melhoria de processo, melhoria da qualidade, segurança na comunicação com stakeholders, expansão, preparação da sucessão para empresas familiares, preparação para um mundo onde a demanda cresce e o preço diminui!

*Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net

Questões relevantes para a competitividade

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Por Ronaldo Ramos*

A melhoria da nossa capacidade competitiva se baseia essencialmente em alguns elementos ou pilares. Dentre eles, a troca de informação, a busca de melhores práticas, e a humildade de inovar não apenas pelo desenvolvimento de novas ideias, mas também pela investigação sistemática de “quem está fazendo melhor do que nós?”, “como eu posso fazer melhor o que eu fazia até ontem?”, “quais são meus novos competidores?”, ou “como eu posso copiar e melhorar?”.

Não tenho receio em utilizar o termo “humildade” por reconhecer a complexidade dos assuntos ligados à competitividade, especialmente num mundo empresarial onde os desafios são muitos:

  • a) Enfrentamos dificuldades em obter fontes de financiamento pelos canais tradicionais;
  • b) Necessitamos gerenciar da melhor forma possível os custos operacionais, os orçamentos e a execução de novos projetos;
  • c) Vivemos uma mudança substancial na qualidade da mão de obra com importante ruptura nas expectativas e nas formas de atuação das gerações mais jovens;
  • d) Onde o engajamento acontece por projetos e não mais pelo sonho de pertencer a uma organização ou de fazer carreira em uma única empresa;
  • e) Uma era de contínua consolidação de organizações sejam elas indústrias, serviços ou terceiro setor, e do aparecimento de novas tecnologias ou modelos de negócios que podem fortalecer nossa competitividade ou simplesmente decretar nosso “falecimento” empresarial;
  • f) Onde existe competição crescente por recursos naturais e uma tendência de sua nacionalização, como por exemplo uso da água, geração de energia e acesso aos combustíveis alternativos;
  • g) Onde a sociedade em seus vários segmentos se esforça para ser ouvida e ter suas expectativas e anseios atendidos;
  • h) E não menos importante, exige que nós como comunidade empresarial amadureçamos, saiamos da cultura do país do ufanismo, do futebol, do jeitinho, da graça, do improviso e da vantagem individual e caminhemos em direção ao planejamento conjunto, estruturado, consciente, abrangente e politicamente responsável;
  • i) Onde as famílias deixaram de nutrir o sonho de ter seus filhos engajados na política e na ação comunitária responsável;
  • j) Há necessidade de coragem para compartilhar conhecimento, trabalhar em time, entender a inserção de nossos negócios em nossa cadeia de valor e globalizar o entendimento para tentar antecipar as tendências e as novas ameaças;

E como isso tudo pode representar uma tarefa simples, a ponto de, inconscientemente, deixarmos que ela seja em sua maioria delegada ao governo?
Gosto muito de chamar a atenção em minhas conversas com colegas, amigos e clientes, sobre a diferenciação entre duas categorias de problemas – os complicados e os complexos.

Entendo por problemas complicados aqueles que representam situações onde conseguimos, com relativo sucesso, identificar as variáveis independentes que atuam sobre nossos modelos de realidade. E ainda que quando conseguimos isolar estas variáveis, entendemos o impacto de cada uma no resultado final. Podemos assim dividir o problema original em problemas menores, procurar a solução para cada uma das partes e depois combiná-las para se chegar à solução do problema maior.

De vez em quando podemos até improvisar, acomodar, “tropicalizar”, ou utilizar outras palavras da nossa cultura que de fato significam “deixar acontecer”, deixar a atividade de planejamento em segundo plano, e adotar um olhar menos investigativo e profundo.

Encarar os grandes obstáculos ao desenvolvimento da competitividade brasileira passa pelo entendimento de que o problema da competitividade é de natureza complexa. Sabemos que não temos mais variáveis independentes e que não podemos utilizar os métodos cartesianos de tratamento… As variáveis estão todas inter-relacionadas, interdependentes, e seus impactos no resultado final são muito difíceis de serem antecipados, exigindo alto grau de sofisticação, planejamento e engajamento dos diversos stakeholders.

No próximo artigo, vamos discutir um pouco a questão da competitividade dentro das empresas e também de alguns setores que estão perdendo espaço no mercado atual.

*Fundador do CEOlab e professor associado da FDC.
ronaldo.ramos@ceolab.net

Valores globais da nova liderança

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Por Ronaldo Ramos*

Muitas das inovações tecnológicas utilizadas por nós atualmente foram previstas por autores de livros de ficção e pela indústria cinematográfica. Embora nem todas as visões retratadas tenham se concretizado – como a tão abordada viagem no tempo, que carece de embasamento científico –, algumas estão causando mudanças radicais na sociedade, com acesso a conhecimentos privilegiados.

O Fórum Econômico Mundial já anunciou a classe de Jovens Líderes Globais de 2015. A maioria em seus 30 e poucos anos, 187 indivíduos são paradigmas tradicionais de liderança desafiadora para trazer mudanças positivas ao mundo: a vanguarda que chega para antecipar as necessidades do futuro e os novos comportamentos da força de trabalho.

A responsabilidade tem o tamanho do conhecimento e eles sabem disso. Como grande parte da tecnologia de 30 anos atrás tornou-se obsoleta, esses jovens estão provando que os estilos de liderança dessa época também ultrapassaram o respectivo prazo de validade. Gestão por medo, hierarquias rígidas, locais de trabalho dominados por homens brancos e pensamentos preconceituosos são cada vez mais anacrônicos nos tempos atuais.

A questão está em como reverter os excessos do capitalismo e evitar as loucuras do comunismo. Para um grupo de pesquisadores, os países emergentes serão os principais centros de transformação. Seguem a seguinte linha de raciocínio: em mercados já estabelecidos, é mais difícil mudar as diretrizes corporativas, pois o poder econômico pode desacelerar as mudanças ou mesmo levar inovadores a pagar pesadas multas. Já em novas nações, como Brasil e Índia, ainda há muito espaço para o desenvolvimento das empresas, o que tornaria a mudança para um modelo de gestão inovador mais fácil e rápido, a despeito de ideologias políticas retrógradas e totalitárias ou de fanatismos religiosos.

Esta geração de líderes difere em termos de gênero e nacionalidade, seu trabalho atravessa as divisões tradicionais entre os setores e eles adotam posturas criativas para problemas difíceis. Abordagens multidisciplinares, empáticas, multiculturais, pensamentos laterais e flexíveis, quebras de paradigmas e vontade de compartilhar conhecimento e riqueza. São leitores ávidos, com espírito crítico, vocabulário renovado, capazes de se expressar de outra maneira, de gerar soluções – não apenas para um mundo diferente, mas para este em que ainda vivemos. Os jovens líderes da classe de 2015 estão provando a importância de cinco pontos-chave para a condução da liderança:

1) Transparência radical: a tecnologia e a velocidade de comunicação têm aumentado a importância de cada um de nós. Os líderes no mundo de hoje percebem que tudo o que dizem, fazem e compartilham pode ser tornado público. Os autênticos vão brilhar nesta era e incentivar seus funcionários e organizações a viver e trabalhar com transparência e mente aberta. Cada vez mais, isso é importante especialmente na esfera governamental. A função do estado, os sistemas de governo, a relação entre governo e iniciativa privada, os sistemas financeiros e os sistemas legais terão de se adaptar mais rapidamente aos anseios da sociedade.

2) O poder de trocar: a sua organização está funcionando meramente como a soma de suas partes? Ou você está favorecendo um local de trabalho de apoio mútuo e troca para concretizar as ambições mais elevadas? Os líderes estão colocando essa filosofia em ação com as organizações, comunidades e redes em todo o mundo. Como harmonizar essas novas tendências ao atual capitalismo, que continua gerando milionários inovadores sem responsabilidade social?

3) Conflitos construtivos: desavenças chegam a romper sociedades. Quando tratada de forma construtiva, no entanto, a discordância também pode ser uma fonte de compreensão, empatia e novas soluções para questões desafiadoras. Como desenvolver times que utilizam o respeito à diversidade e que podem convergir inteligentemente tanto no intelecto quanto emocionalmente, priorizando a sustentabilidade?

4) Líderes trissetoriais: os desafios globais de hoje são complexos, interrelacionados e exigem a colaboração entre governo, empresas e sociedade civil, além de atravessarem as fronteiras culturais. Quase todos os Jovens Líderes Globais da turma de 2015 viveram, estudaram e trabalharam em diferentes países; muitos deles falam vários idiomas; e grande parte representa o tipo trissetorial necessário para resolver os problemas intratáveis do mundo.

5) Além da linha de atuação: bem-sucedidos em suas áreas de especialização, os novos lideres estão dedicados a fazer uma contribuição para a sociedade de forma mais ampla. Seja em setores privados ou públicos, acadêmicos ou midiáticos, eles se consideram os empreendedores “sociais em espírito”. O que justifica a inclusão da dimensão espiritual no assunto sustentabilidade.

Esses pontos não vão apenas mudar a cultura de trabalho dos dias de hoje, mas criar as bases para os próximos 30 anos. Muitas tecnologias certamente irão, mais uma vez, alterar o curso da história humana. Poderemos estar vivendo em outros planetas, com máquinas assumindo nossos postos de trabalho, e os avanços nos ajudando a lidar com os desafios climáticos. De todas as conjecturas, temos uma certeza: a liderança mais construtiva, inclusiva, que abraça a diversidade e a transparência, será essencial para criar o tipo de futuro que queremos e precisamos. E você, já começou a refletir sobre as alterações nos contratos de trabalho e sua carga tributária? Em como vai negociar com seus colaboradores sobre os projetos e a distribuição do tempo?

Boas reflexões!

*Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net

Os conflitos gerenciais e a física – uma analogia vetorial

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Por Ronaldo Ramos*

Lembro-me perfeitamente da primeira vez em que ouvi a palavra “vetor”. E de como aprendi de maneira embaraçosa o seu significado. Foi na “aula inaugural” do curso de Engenharia, em trote dado por um veterano que se fez passar por professor e escreveu na lousa (sim, lousa!) uma lista de material na qual constava a “régua T circular” e uma “caixinha de vetores”. Não preciso dizer que fui até a loja da escola e apresentei os itens com a intenção de comprar tudo, para divertimento do atendente.

Hoje, muitos anos passados, procuro entender os diversos conflitos explícitos ou implícitos no ambiente de trabalho. E, principalmente, entre sócios, administradores e gestores, fazendo analogia com uma aplicação complexa, humana e gerencial da conhecida teoria de “cálculo vetorial”.

Vamos parar um minuto para entender o que seria um vetor e depois falarmos de “cálculo vetorial” e como prefiro olhar para conflitos como possíveis resultantes da soma de vetores diferentes.

Podemos partir do conceito da física e imaginar o vetor como uma flechinha ou um pedacinho de linha reta, no qual 3 principais características seriam consideradas:

1) A direção da flechinha ou, em outras palavras, em qual tipo de alinhamento, ideologia, princípio ou conjunto de princípios está a nossa intenção de caminhar, influenciar, provocar movimento;

2) A intensidade da vontade de caminhar, influenciar, provocar movimento naquela direção decidida anteriormente; pode ser um peso, uma dificuldade, um interesse particular, uma motivação, um engajamento, uma ambição. A parte “escalar” ou “módulo” do vetor;

3) O sentido dessa intenção de movimento, seja de oposição, apoio, distração, negativismo, otimismo, aversão ao risco ou promoção de novas iniciativas.

Agora, imagine os integrantes de um comitê executivo ou de um conselho gestor, um grupo de sócios ou apenas os membros de um clube em relacionamento com seus colegas: carregando, consciente ou inconscientemente (ou os dois) um conjunto de vetores com as características acima.

Como disse antes, esses vetores representariam alinhamentos próprios, ideologias, convicções, princípios, intensidades e motivações diferentes, pesos, histórias, ambições, habilidades, em diversos sentidos…

Bem-vindo ao mundo corporativo, ao mundo das associações, das organizações de trabalho, ao cálculo vetorial complexo, técnico e humano!

Seria muito fácil, e até um pouco sem graça, se conseguíssemos atribuir a cada profissional, sócio, colaborador, apenas um vetor todo o tempo. Todos seriam mais ou menos previsíveis e sempre apresentariam as mesmas posições, ambições e motivações.

Todos sabemos que as coisas não funcionam assim… Cada pessoa pode ser vista como um conjunto de vetores, com múltiplas ideias, desejos, percepções e culturas. Chegamos, então, por analogia, ao cálculo vetorial multidimensional!

A questão fundamental para os mentores é como prever o resultado da combinação (ou soma algébrica) de todos os vetores atuantes; a energia gasta pelo conjunto; e como trazer para a consciência dos participantes o seu próprio vetor e o impacto que causa no todo.

Para exemplificar, imaginemos um confronto de franca oposição. Os vetores teriam a mesma direção, intensidades diferentes e sentidos opostos. Nesse caso, embora a energia total gasta seja a soma dos esforços de cada um, o resultado final seria simplesmente a diferença entre as forças individuais, já que os sentidos são opostos e, assim, boa parte dos vetores se anulariam. Semelhante a uma situação de cabo de guerra.

A ideia é mostrar aos diversos agentes ou componentes de um grupo de acionistas, administradores e gestores que, de fato, não enfrentam um conflito de interesses ou, ainda, que atuam como soldados em batalhas ideológicas ao contrário: como diferentes vetores que devem ser compreendidos ao influenciar o resultado final. Dessa forma, podemos obter maior cooperação e entendimento e, em alguns casos, até maior empatia entre grupos aparentemente oponentes.

Esse enfoque mais racional e visual, talvez um pouco mais lúdico, de mostrar a importância de obtermos alinhamento e engajamento, vem demonstrando resultados práticos em minha experiência profissional com diversos agentes em empresas.

Vale a pena tentar!

*Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net

Liderança e trabalho de time

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Por Ronaldo Ramos*

Liderar trabalhos em equipes multidisciplinares requer algumas habilidades. O líder deve dar o exemplo, respeitando o tempo, a opinião e a diversidade de ideias existente no grupo. Precisa reconhecer e valorizar a riqueza de experiências. Trabalhar colaborativamente almejando um resultado superior significa obter engajamento de todos e estabelecer linguagem comum construída em conjunto. Selecionei aqui oito dicas que considero “de ouro”:

  1. Capriche nas reuniões:
                Chegue no horário e comece na hora marcada;
                Tenha uma agenda clara, com a expectativa do que deve ser decidido e a previsão de duração da reunião;

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              Ao respeitar esses princípios, os profissionais se sentirão também respeitados e tentarão copiar o seu exemplo;
  1. Assegure-se de que todos sejam ouvidos, independentemente do grau de especialização em cada assunto. Se houver reticências, faça perguntas aos mais calados, procurando trazê-los para a discussão. Mostre que está ouvindo, fazendo resumos, interpretações e construindo sobre os pontos apresentados;
  2. Evite iniciar por uma concordância ou um elogio, e, em seguida, utilizar palavras como “mas”, “porém”, “entretanto”. Todos vão prestar atenção apenas na segunda parte da conversa, e seus elogios não terão mais o poder de energizar genuinamente. Lembre-se que o “e” é muito mais poderoso, pois é a palavra que adiciona, completa, constrói, ajuda;
  3. Cuidadosamente, permita que a liderança das discussões “passeie” pela mesa, dando a todos a oportunidade de conduzir a argumentação e os debates por algum tempo. Quando for necessário, retome a direção de maneira assertiva, usando frases como “vamos fazer uma retrospectiva para ter certeza de que todos estejam na mesma página”, “vamos convergir a discussão agora, porque nosso tempo está acabando”, ou ainda “vamos deixar esta questão para ser abordada à parte”;
  4. Reserve tempo para planejar ou discutir um experimento que possa levar a erros, mostrando que existe espaço para tentativas e aprendizado. Limite as consequências com uma boa mitigação de riscos incluída no planejamento. Compartilhe seus erros e acertos e treine seu time para desenvolver um nivelamento cultural obtido por meio da aceitação mútua das diferenças e da capacidade de compartilhar erros e acertos;
  5. Termine a reunião sempre com a lista de ações bem definida, prazos e responsáveis designados para cada tarefa;
  6. Se você perceber objetivos ou agendas ocultas, faça perguntas que circundem o tema e procure deixar os membros do time confortáveis para expor seus objetivos pessoais; se isso acontecer, esteja preparado para levá-los em conta nas decisões, reforçando assim o exemplo;
  7. Trabalhe a confiança entre as pessoas da equipe, mostrando que quanto mais previsíveis forem os comportamentos de cada um, mais fácil será construir a abertura e a colaboração legítima.

É claro que a aplicação e o aproveitamento dessas dicas dependem de diversos fatores, como o estilo de liderança, a diversidade dos membros do grupo, a cultura, a infraestrutura e a dimensão da empresa, importância e urgência dos assuntos em debate. Os resultados serão obtidos com a prática, tentativas, erros e aprendizados. Quanto mais cedo você começar, melhor!

*Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net