por Ronaldo Ramos | 26 de fevereiro de 2016 | Inovação
Por Ronaldo Ramos*
Com o avanço tecnológico da última década, devemos experimentar “dois dos eventos mais surpreendentes da história humana: a criação de uma verdadeira inteligência das máquinas e a conexão de todos os humanos via uma rede digital comum, transformando a economia do planeta”. É o que preconiza o livro The Second Machine Age (A Segunda Era da Máquina), de Andrew McAfee e Erik Brynjolfsson.
A era da informação coincidiu – e, em certa medida, provocou – tendências econômicas adversas: a estagnação da mediana da renda real; crescente desigualdade na renda do trabalho e na distribuição de renda entre o trabalho e o capital; e o crescimento do desemprego no longo prazo. Contudo, teremos cada vez mais acesso a melhores tecnologias e mais conforto, e pagaremos cada vez menos por isso. Também teremos cada vez mais tempo livre que nos permitirá vivenciar uma nova economia.
O surgimento desta nova tecnologia melhora o padrão de vida e, ao mesmo tempo, traz anomalias e desequilíbrios. Mas a sociedade aos poucos aprenderá a lidar com isso. Há um preço a pagar pelo progresso científico e tecnológico, como aconteceu na era da máquina a vapor.
Quando olhamos historicamente para a evolução da população no planeta e de sua qualidade de vida, notamos uma primeira onda de desenvolvimento exponencial a partir da invenção da máquina a vapor. Nesse momento, a força física humana, que anteriormente havia sido parcialmente substituída pela força física animal (domesticação), é substituída em grande extensão pela máquina impulsionada pelos motores a explosão.
A próxima onda, que aparentemente produzirá um novo desenvolvimento exponencial, ou ainda uma série deles, será a digital, com seus softwares, hardwares, robôs, inteligência artificial ou computação cognitiva ou ainda inteligência artificial geral – onde a expertise das inteligências artificiais dará espaço a uma mais geral – e tudo rodando em dispositivos móveis.
Na Segunda Era da Máquina, argumenta Brynjolfsson, “estamos começando a automatizar tarefas cognitivas e sistemas de controle que permitem antecipar a substituição do trabalho mental em algumas de suas dimensões. Hoje, em muitos casos, máquinas artificialmente inteligentes podem tomar decisões melhores que seres humanos”. Assim, humanos e máquinas equipadas com software podem ser cada vez mais alternativos, e menos complementares. Agora que estamos na segunda metade do tabuleiro digital, vemos carros que podem se guiar sozinhos no tráfego, robôs industriais flexíveis e smartphones portáteis que equivalem a um supercomputador de apenas uma geração atrás.
Acrescente-se agora a disseminação da internet para pessoas e coisas – logo cada indivíduo no planeta terá um smartphone, e cada caixa registradora, motor de avião, iPad de estudante e termostato estará transmitindo dados via internet. Todo esse fluxo de informação implica em podermos descobrir e analisar padrões instantaneamente, reproduzir na hora o que está funcionando numa escala global e melhorar o que não está funcionando. A velocidade e a curva do aprimoramento se desenvolvem de forma muito rápida e íngreme.
Segundo os autores, nossa geração terá mais poder para melhorar (ou destruir) o mundo do que qualquer outra, dependendo de menos gente e de mais tecnologia. Significa também que precisamos repensar nossos contratos sociais, porque o trabalho é muito importante para a identidade e dignidade de uma pessoa e para a estabilidade social.
“Inovadores, empreendedores, cientistas, curiosos e muitos outros maníacos por tecnologia vão se aproveitar dessa cornucópia para desenvolver tecnologias que nos assombrem, nos deleitem e que trabalhem para nós.”
Acima de tudo, insiste o livro, isso é o apenas o começo. Grande parte do trabalho cerebral rotineiro vai ser computadorizado. O cenário resultante poderia ser marcado por distribuição de renda ainda mais desigual, com um pequeno grupo de bem-sucedidos no topo e outro, amplamente maior, de pessoas em dificuldade no degrau mais baixo. Em 2012, por exemplo, a faixa formada por 1% dos americanos mais ricos ganhou 22% de toda a renda, mais que o dobro do que nos anos 80.
Difícil acreditar que a digitalização pode afetar a manufatura da mesma forma que afetou e transformou a mídia. Mas, e se a impressão 3D, também chamada de “manufatura aditiva”, se popularizasse e permitisse a cada um de nós reproduzir remotamente produtos concretos? Ou ainda se pudéssemos criar nossos próprios produtos personalizados?
Os modelos atuais de produção dependem de instalações fabris grandes e interligadas, bem como do vasto conjunto de relações de abastecimento e entrega que gira em torno delas. A digitalização tem o potencial de criar importantes rupturas sobre esse sistema. Ela já está revolucionando a maneira de se fazer negócio em determinados segmentos, entre os quais o de próteses e implantes médicos, pois a impressão 3D facilita a personalização e agiliza os projetos.
Impulsionada pela demanda do cliente e possibilitada pela tecnologia moderna, a personalização em massa é uma tendência crescente em manufatura. Além disso, ela apela para consumidores modernos, o que ajuda os fabricantes a encontrarem uma vantagem competitiva necessária. Customização em escala seria a próxima máxima da economia?
Algumas empresas ainda não compreenderam que a personalização em massa tem o potencial de aumentar a receita e obter vantagens competitivas, melhorar o fluxo de caixa e reduzir o desperdício por meio da produção sob demanda. A boa notícia é que grande parte das organizações já entendem que ser “novo” ou “diferente” não é mais um diferencial.
O ambiente de negócios está cada vez mais volátil e desafiador. Fazer apenas mudanças não é mais o suficiente. São necessárias verdadeiras transformações impulsionadas pela velocidade exponencial da evolução tecnológica. A instabilidade e a incerteza dos cenários econômicos e as rupturas que surgem nos modelos de negócio estabelecidos e consolidados são as únicas constantes!
O que isso sinaliza? Os atuais planejamentos estratégicos deverão ser revistos, para contemplar novos e inesperados cenários e não apenas os cenários conhecidos. Não é uma tarefa fácil olhar o longo prazo e, ao mesmo tempo, estar preparado para ser ágil e adaptável em um mundo dinâmico e imprevisível. A velocidade das decisões aproxima-se da velocidade computacional. De fato, o CEO terá de se preparar para entender o passado próximo, se desconectar das crenças anteriores e proteger a criação do futuro.
Invenções de ruptura nos últimos 5 anos:
2010 – Os automóveis autônomos fizeram sua primeira viagem em estradas e com tráfego.
2011 – O supercomputador Watson da IBM saiu vitorioso do programa “Jeopardy” contra dois dos melhores campeões que por lá passaram. Com uma larga margem!!!
2012 – Gatos em fotos na internet – inteligência artificial para “escanear” fotos e procurar disposições de pixels semelhantes a rostos, corpos e gatos!!! Com um hardware de aproximadamente 1 milhão de dólares.
2013 – Reduzido o custo de hardware necessário de 1 milhão de dólares para 20 mil dólares, com desempenho melhorado!!!
2014 – Skype com chamadas grátis para todo o mundo, agora com tradução simultânea entre as línguas dos participantes!!!
2015 – Deepmind anuncia sistemas de inteligência artificial que aprenderam a jogar vídeo games da ATARI a partir de um único comando – maximize a pontuação!!! Sem regras, sem dicas, sem estratégias… E chegam a resultados surpreendentes – estratégias jamais pensadas por seus idealizadores.
2015 – Uma peça tridimensional é formada a partir de um recipiente com cola, revolucionando as bases da manufatura, da logística, etc.
* Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net
por Ronaldo Ramos | 12 de janeiro de 2016 | Ações, liderança, Mentoria, Sustentabilidade
Por Ronaldo Ramos*
“O futuro está aí – só não está plenamente distribuído.” A frase do visionário William Gibson, autor da trilogia Sprawl – que inspirou os filmes Matrix –, é motivo extenso para debate independentemente da época. Em nossa realidade, pode significar a redistribuição, em um cenário de consumo excessivo e recursos naturais escassos, no qual o compartilhamento das riquezas e bens torna-se fundamental para a prosperidade do planeta e da humanidade.
A ficção retratou a queda da Nação como modelo, pessoas modificadas por próteses de membros ou biochips, cidades inteiras situadas em órbitas espaciais, lutas pelo poder entre grandes corporações e uma espécie de alucinação coletiva digital, a Matrix, acessada por computadores, na qual a humanidade inteira está conectada. Uma sociedade movida a prazeres e totalmente dominada por máquinas criadas exclusivamente para produzir ilusões de que uma nova vida, aquela utopia que sonhamos, pode ser vivida.
As lideranças do mundo dos negócios, da política, do terceiro setor, de sindicatos ou de grupos comunitários têm um papel decisivo no desempenho de suas organizações. O posicionamento que assumem perante a sociedade e diante de assuntos polêmicos, a forma como interagem com as pessoas, o tempo de resposta diante de uma crise iminente são alguns dos fatores que podem ser decisivos para a formação da reputação e da imagem de uma instituição.
A partir de uma análise etimológica, entretanto, descobrimos que um líder, além de assumir a responsabilidade por determinado setor ou atividade, é também uma pessoa que exerce influência sobre o comportamento, o pensamento ou a opinião das pessoas – para o bem ou para o mal. E isso passa, inevitavelmente, por uma boa comunicação.
Segundo Harsey, 1986, a partir da concepção do homo social, surgiu a necessidade de um líder que facilitasse a relação das pessoas no grupo e que orientasse o grupo no alcance dos objetivos organizacionais. O líder passou, então, a concentrar-se nas necessidades das pessoas enquanto seres sociais, como forma de atingir as metas da organização.
“Há que se considerar, também, que os acontecimentos dramáticos que se observa universalmente, quer se trate da deteriorização da condição física, psíquica e cultural de grande parte da humanidade, da violência, dos conflitos que minam todos os patamares da sociedade, das ameaças que planam sobre o equilíbrio ecológico e do globo e do estado de confusão que reina ao nível dos valores morais e éticos, exigem imperiosamente que nos interroguemos, com maior rigor, sobre as consequências do triunfo do economismo de vista curta e sobre as finalidades da empresa, instituição que acabou por se transformar no pivô em torno da qual todas as outras instituições gravitam.”
Alain Chanlat
Nunca precisamos tanto de solidariedade como agora, e de que forma o CEO pode fazer o seu trabalho de maneira consistente? Preservar mercado? Manter os consumidores dentro de determinadas faixas de poder aquisitivo? As responsabilidades do CEO se confundem com as do cidadão e, portanto, não podemos mais abrir mão de considerar diversos parâmetros durante a elaboração dos planos estratégicos.
Normalmente, nos preocupamos muito com a qualidade da informação e do conteúdo acadêmico de nossos ciclos de planejamento estratégico e de execução em busca de excelência operacional. Esquecemos de refletir sobre a qualidade do elemento humano que vai desenvolver o planejado e suas diversas dimensões de percepção na vida e no trabalho.
Na sustentabilidade, o ciclo de vida do produto é apenas um dos elementos. E os outros? Por quanto tempo os efeitos colaterais da produção e do uso do produto permanecerão? E de seus resíduos? E os efeitos sobre os consumidores e empregados? Sou dono ou inquilino? Do Planeta? Do País? Da comunidade onde vivo? Das comunidades de consumidores e colaboradores? Dos vizinhos?
Líderes empresariais e intelectuais sofisticados já sabem disso; começam a surgir elementos promissores de um novo modelo. Ainda não temos, no entanto, um marco geral para nortear essa iniciativa — e a maioria das empresas continua presa a uma mentalidade de “responsabilidade social” na qual questões sociais estão na periferia, não no centro.
Recente pesquisa da universidade de Georgia, nos Estados Unidos, mostra que 25% dos lucros de uma empresa podem ser atribuídos à gestão do CEO. Nos anos 1960 e 1950, esse número ficava entre 6% e 8%. Mas quais aspectos tornaram maior a importância do CEO?
Em primeiro lugar, mesmo em um ambiente de negócios onde o conselho e outros altos executivos têm influência crescente, o CEO dá o tom da organização e tem o poder de decisão de contratar ou reter profissionais-chave. Hoje, ele também pode promover mudanças importantes em questão de semanas. Há 50 anos, o mundo não se movia com tamanha velocidade. Aliado a isso, a tendência de diminuição dos níveis hierárquicos favoreceu a rapidez da tomada de decisão dentro da organização.
Outro aspecto é a estrutura de remuneração para altos executivos, que incentiva o risco. Isso encoraja os CEOs a tomarem muitas decisões, na esperança de serem recompensados por uma boa remuneração variável. A pesquisa, de autoria do professor de administração Tim Quigley, analisou o desempenho de companhias americanas nos últimos 60 anos. Foram isolados aspectos como as condições econômicas do período, diferenças entre setores e o histórico de cada empresa.
O capitalismo é um veículo inigualável para a satisfação das necessidades humanas, o aumento da eficiência, a criação de emprego e a geração de riqueza. Só que uma concepção estreita do capitalismo impediu que a atividade empresarial explorasse todo seu potencial para enfrentar os grandes desafios da sociedade. As oportunidades sempre estiveram aí, mas foram negligenciadas.
Zygmunt Bauman no seu trabalho Modernidade Líquida (2001) faz um pertinente estudo das transformações de nossa época e que passaria da “solidez” de um capitalismo “pesado” para a fluidez de um capitalismo “leve” que movimenta os moinhos do hiperconsumo. As metáforas entre “sólido” e “líquido” são muito mais profundas do que aparenta, sendo possível criar uma distinção entre estes dois momentos díspares.
O consumo colaborativo baseia-se em um conceito simples: alavancar valor de ativos que não estão sendo totalmente explorados por seus donos. Um dos programas de pesquisa da University of Innsbruck busca identificar modelos de negócio inovadores enquanto é criado valor para a comunidade. Nesse contexto, estudou o compartilhamento de ativos, o que foi a base para o artigo do MIT Sloan Management Review sobre o tema.
Sem dúvida um conceito com menor foco no consumo e maior foco na troca tem um impacto reduzido nos recursos naturais, tornando-o um negócio que contribui para a sustentabilidade. Isso mesmo, o conceito é explorado como um negócio e, portanto, pode tornar-se uma oportunidade para empresas e investidores.
De acordo com o artigo, uma pesquisa da PricewaterhouseCoopers revelou que o mercado global de produtos e serviços compartilhados, ou de consumo colaborativo, poderá chegar a US$ 335 bilhões em 2025. Além disso, esse mercado tem apresentado um rápido crescimento nos últimos anos.
As consequências de meus atos serão por mim acompanhadas pelo período médio atual de 100 anos de idade, sendo ativo na carreira até, quem sabe, 75 ou 80 anos. Meus conhecimentos e minha qualidade de execução precisam abranger esta longevidade, mesmo sendo o CEO à frente de uma organização por um tempo infinitamente menor, em torno de 5 anos mais ou menos. Em vista disso, quem é o planejador e o que ele considera como seu horizonte?
*Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net
por Ronaldo Ramos | 15 de dezembro de 2015 | Gestão
Por Ronaldo Ramos*
A segurança, a comunicação, o transporte, a saúde e o trabalho – multidisciplinar e multicultural – em equipe dependem de algo em discussão constante pela sociedade: a falta de privacidade. É um paradoxo dos tempos atuais. Deixamos nossa residência e somos monitorados por câmeras públicas e privadas. Estamos registrados no mundo digital detalhadamente. E a biometria surgiu como o mais recente passo da tecnologia para autenticar nossa identidade.
Podemos questionar até que ponto o direito à privacidade individual interfere na garantia de proteção dos cidadãos e sua evolução, por conta de uma vigilância exercida por agentes muitas vezes desconhecidos. A sociedade sempre em observação foi preconizada pelo escritor inglês George Orwell no livro “1984”, publicado em 1949, que inspirou o título do reality show Big Brother. Apesar da abordagem futurista do autor considerar o controle da população por parte de um Estado totalitário, que reescreve a própria história e distorce fatos a seu favor – em que a individualidade e a liberdade de expressão são impossíveis –, vemos a mesma falta de privacidade ser fundamental e, por vezes, até benéfica em muitos aspectos nas sociedades democráticas nos dias de hoje.
Muitas vezes, são as imagens de câmeras de segurança que possibilitam a resolução de crimes e a punição de seus responsáveis. Hoje, temos uma “vigilância aprimorada” –descrita por Foucault na obra Vigiar e Punir. A noção de crime e seus correlatos provêm da organização das sociedades em modos diversos e crescentes ao longo do tempo, com o desenvolvimento de sua complexidade.
Londres, por exemplo, utiliza câmeras de circuito fechado de TV (CFTV) há anos para monitorar as ruas da cidade, o que permite aos policiais andarem pelas ruas sem portar armas de fogo. Nas 52 estações de metrô de São Paulo, a maior rede metroviária do Brasil, são quase cerca de 900 filmadoras instaladas para vigiar os passos dos usuários. No Rio de Janeiro, estima-se que aproximadamente 700 mil equipamentos gravem o cotidiano dos cariocas nas ruas, prédios, condomínios, bancos, supermercados etc. O que nos difere dos confinados do Big Brother é que, no Brasil, ainda não existe um sistema que agrupe todas essas imagens e informações.
Nem as crianças estão livres dos olhos de terceiros. Se antes uma babá eletrônica rudimentar resolvia o problema dos pais, hoje mãe tranquila é aquela que pode vigiar seus filhos quando quiser. Muitas escolas possuem câmeras para o acompanhamento dos pais pela Web. E filmadora em casa flagra absurdos, como uma babá que espanca o bebê, ou permitem interação remota com filhos para reduzir o estresse e a distância.
Sistemas de monitoramento existiam antes mesmo dos serviços de localização via satélite. Os celulares com tecnologia digital há muito podem ser rastreados pelas empresas de telefonia. É possível traçar um mapa do trajeto do usuário. O mesmo acontece com os cartões de crédito. Informações como renda, endereço e preferências pessoais do cliente, como os hábitos de compra por cartão de crédito passam a fazer parte do Big Data. Mesmo sem a garantia de que seus dados estão a salvo de hackers, as pessoas parecem dispostas a perder sua privacidade em nome de diversos benefícios, como segurança, facilidade de locomoção, acesso a entretenimento e saúde.
Comunicação
Indiscutivelmente, geramos quintilhões de dados por dia e estamos sob constante vigilância. O Facebook e o Google armazenam informações sobre seus usuários. Big Data, social media e algoritmos preditivos abrem um novo campo de discussão sobre privacidade. Uma empresa pode usar a imensidão de dados que dispõe sobre seus clientes para uma promoção que melhora significativamente a experiência dos consumidores, ou para prever tendências ainda não detectadas por outros métodos tradicionais de pesquisa de comportamento e intenção de consumo.
Na prática, qualquer um pode bisbilhotar a vida alheia. No entanto, os profissionais e as corporações dependem do tráfego de informações individuais e conjuntas para a divulgação e propagação de suas ações. Hoje, a principal mídia, sem dúvida, é a Internet. E estar fora de redes sociais como Facebook e LinkedIn significa abrir mão de inúmeras oportunidades de negócios e trabalho.
Mesmo assim, o Facebook perdeu mais de três milhões de usuários adolescentes – de 13 a 17 anos – entre 2011 e 2013, segundo pesquisa divulgada por uma empresa de consultoria em estratégia de tecnologia nos Estados Unidos, principalmente devido à vigilância por parte de familiares. Outro estudo feito pela University College of London (UCL) no final de 2013 mostrou que, na Europa, os jovens de 16 a 18 anos estavam migrando para outros aplicativos de troca de mensagens instantâneas, como o WhatsApp, por se sentirem menos expostos e mais direcionados.
As vantagens de ferramentas como o Facebook são inúmeras, e a facilidade de uso é muito grande. O que seus usuários precisam é estar atentos às características, para tirar o devido proveito da exposição e ter cuidado com a parametrização de uma privacidade adequada. Além disso, diante da perda de contas, é provável que o Facebook melhore ainda mais a abordagem para a segurança da rede.
Trabalho em equipe
Equipes virtuais precisam se organizar para promover produtividade. Quando uma pessoa é inserida no mundo corporativo, recebe diversos acessos para os sistemas e recursos necessários. Se por um lado o indivíduo ganha mobilidade, flexibilidade de horários de trabalho e possibilidade de trabalhar enquanto compartilha da companhia de familiares ou amigos, economizando energia no transporte e gastos com infraestrutura nos ambientes corporativos, esse fator dificulta a vida de usuários, que precisam administrar cada vez mais senhas corporativas, além das suas próprias, que vão desde o desbloqueio de smartphones até contas bancárias. Por isso, o mercado tecnológico vem mudando conceitos.
Um dos novos métodos adotados é a tecnologia de biometria, que permite acesso às informações por meio de sua digital, reconhecimento facial ou de íris – até mesmo para pagamentos. Isso gera uma sensação de segurança e, ao mesmo tempo, elimina a necessidade de memorização de senhas complexas. De qualquer forma, abrimos conscientemente mão da privacidade em troca da conquista de novas possibilidades e conforto.
Organização
A cidade de Boston fechou parceria com o app Waze, do Google, para coletar dados inseridos pelos usuários e utilizá-los no planejamento do tráfego para diminuir os engarrafamentos. São ações pontuais, como modificar o tempo de mudança dos sinais de trânsito em horários de muito movimento.
Os dados fornecidos pelo aplicativo já foram usados em um projeto por meio do qual os usuários podiam sinalizar onde havia carros parados em fila dupla, e o departamento de trânsito enviava agentes para advertir sobre a infração. O impacto na fluidez do trânsito foi enorme, o que deve dar origem a outras iniciativas semelhantes.
A grande tendência em certificação de identidades é o uso de tecnologias para a leitura biométrica da íris e da retina, duas informações que são únicas em cada ser humano e não podem ser fraudadas. As máquinas que fazem esse tipo de reconhecimento conseguem reproduzir imagens dos olhos em altíssima resolução e comparam as informações com um amplo banco de dados. A autenticação da íris é a usada em maior escala no mundo e tem sido apontada como a mais eficiente leitura biométrica.
Fortalecer as relações humanas é fundamental para tornar as equipes virtuais mais produtivas nas empresas, os cidadãos mais participativos na sociedade e os indivíduos conscientes ao administrar sua vida pessoal. Esse é o desafio da era tecnológica, em que a opinião tem espaço, mas a privacidade tornou-se um conceito dúbio, que também precisa ser constantemente vigiado. Em outras palavras, o poder agora se concentra fundamentalmente na disposição para a transparência – para o compartilhamento não só de informação, mas também das perguntas e inquietudes que nos movem para o entendimento da profunda conexão que existe entre seres humanos e o planeta em que vivemos. Um futuro cheio de surpresas e grandes transformações!
*Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net
por Ronaldo Ramos | 27 de outubro de 2015 | Mentoria
Por Ronaldo Ramos*
David F. Melcher CEO e presidente da Exelis, uma empresa global do setor aeroespacial, de defesa e de soluções de informação, e A. John Procopio, VP da área de Recursos Humanos da mesma empresa, relatam uma interessante experiência sobre a implantação de um programa de mentoria onde os mentores foram escolhidos entre os conselheiros de administração da própria empresa.
“Pergunte a uma pessoa de sucesso qual foi a força mais influenciadora em sua vida, e você provavelmente ouvirá a história de uma pessoa que se interessou pelo desenvolvimento pessoal e proporcionou mentoria, ensinamentos, aconselhamento e apoio. Relacionamentos como estes são frequentemente uma questão de oportunidade. Algumas pessoas encontram mentores, outras simplesmente não. Mas talvez um enfoque sistemático possa eliminar o fator aleatório e garantir que líderes recebam a mentoria que precisem, e que mereçam”.
Os benefícios da adoção do programa de mentoria são descritos com clareza pelos dois executivos:
Melhor performance individual – os mentorados demonstraram maior comprometimento, lealdade e produtividade;
Melhor mentoria na empresa – muito mentorados entenderam o programa e a atividade e iniciaram um processo de disseminação interna da mentoria;
Melhor governança – a possibilidade de transferir conhecimentos adquiridos, juntamente com o processo de mentoria, que aproximou o Conselho e os executivos da empresa, alinhando estratégias e ações;
Maior confiança entre os colaboradores, alterando a cultura de gestão por meio de comunicação franca e direta;
Mas nem tudo foi fácil na implantação deste programa, a julgar pelas reações iniciais de alguns executivos – os mentores irão se comprometer com o programa? Teremos suficiente flexibilidade em nossas agendas para acomodar as reuniões? Haverá entrosamento entre mentor e mentorado? Quem deveria dirigir o processo de mentoria? O que acontece se o mentorado discordar das recomendações do mentor? E se o mentorado não gostar do mentor?
Para endereçar estas legítimas questões a Exelis adotou várias práticas de trabalho e chegou a um acordo sobre as condições fundamentais para que a iniciativa de mentoria funcionasse.
Os resultados foram surpreendentes:
• Os mentorados se beneficiaram enormemente do programa, pois disseram que aprenderam muito e cresceram por meio da mentoria, e em particular por terem mentores que ouviam, ensinavam e motivavam a assumir mais e novos desafios.
• Os mentores desafiaram seus mentorados enquanto os ajudavam a desenvolver autoconfiança, os aconselhavam em seus problemas e agiam como modelos de referência.
• Os mentorados ganharam contatos pessoais importantes por meio de seus mentores e obtiveram experiência de muito valor ao observar seus mentores em ação e aprender sobre suas estratégias pessoais.
Os mentores também tiveram ganhos importantes, pois tiveram a oportunidade de praticar suas habilidades de mentoria e se sentiram úteis e importantes ao transferir conhecimento e experiência fazendo diferença na vida de seus mentorados. Também aprenderam novas técnicas e se modernizaram com seus pupilos.
Outras empresas de diferentes tamanhos também vêm adotando programas de mentorias com sucesso, e os mais comuns ainda são aqueles contratados por donos e sócios de empresas familiares de diferentes portes, onde a sucessão, o crescimento sustentável e a adoção de novos modelos de negócios e de governança sejam vistos como fator crítico de sucesso.
*Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net
por Ronaldo Ramos | 22 de setembro de 2015 | Mentoria
Por Ronaldo Ramos*
Mentoria é a arte de inspirar, desafiar e dirigir, desenvolvendo a confiança mútua entre mentor e mentorado no sentido do aprimoramento para a tomada de decisões bem informadas e com riscos calculados, e de contribuir para a criatividade e o pensamento estratégico.
Mentoria é a arte de desenvolver alianças, catalisar, ensinar, aconselhar, apoiar o desenvolvimento e a execução de planos, criar ambientes seguros para o aprendizado, ser referência, contar histórias.
Mentoria é a arte de compartilhar conhecimento, experiência, sabedoria, com habilidade para fazer as perguntas certas, de forma investigativa, empática e respeitosa.
Mentoria é a arte de estimular e energizar o mentorado a explorar suas conclusões e aprender a partir de experiências próprias, em um processo seguro e protegido da exposição ao mundo exterior.
Mentoria pressupõe o uso de várias ferramentas específicas, como coaching, treinamento, direcionamento, motivação, aconselhamento e, sobretudo, permite que o executivo ou sócio desenvolvam seu próprio processo de aprendizado, com um programa focado na aceleração deste aprendizado e em um objetivo concreto, ligado ao desempenho de uma responsabilidade profissional específica.
Difere do coaching em muitos aspectos, pois enquanto este se baseia na psicologia e nas ciências do comportamento e não necessariamente é aplicado por alguém que esteve na linha de frente de um negócio, a mentoria compreende um processo abrangente, holístico, baseado sobretudo na noção de que o mentor demonstra comprovado sucesso em funções semelhantes às do mentorado e tem uma compreensão interdisciplinar e intercultural das questões a serem abordadas.
O mentor entende com precisão o sentimento de solidão que muitos enfrentam ao atingir posições de liderança em seus negócios, pois conviveu com este mesmo sentimento ao longo de sua carreira.
No CEOlab o trabalho de mentoria tem apoio em três pilares:
1. Diagnóstico, formulação e validação – O primeiro e mais relevante passo em direção à solução é a formulação do problema. Nesta fase várias ferramentas e processos são utilizados:
a) Estimular o mentorado com perguntas e reflexões que o levem ao diagnóstico e à causa raiz de uma questão ou desafio, seja de ordem política, técnica, comportamental ou de liderança;
b) Manter disciplina e foco para otimizar o uso de recursos;
c) Evitar gastos com tentativas de usar ferramentas conhecidas, preferidas e dominadas em zona de conforto, porém inadequadas;
d) Para identificar os melhores meios para a solução do problema, não restringimos nosso trabalho a receitas definidas “a priori”, preferindo alavancar o conhecimento por meio do compartilhamento de experiências entre os mentores;
2. Conversa investigativa, empática e respeitosa – seres humanos têm histórias e expectativas próprias que precisam ser entendidas com clareza e alinhadas ao momento da empresa, dos sócios e do CEO. A conexão do mentor com seus clientes e a mútua confiança são essenciais para o sucesso da mentoria.
O respeito às conquistas individuais e coletivas é um valor inegociável, nem todos querem as mesmas coisas. No caso de uma empresa familiar, por exemplo, o fundador costuma ser uma fonte inesgotável de conhecimento e sabedoria que precisa continuar se desenvolvendo, seja na função que ocupa ou na transição para a sucessão. Já a dinâmica do relacionamento na mentoria e a visão de futuro e necessidades específicas podem variar e requerem do mentor ouvidos atentos para captar sinais importantes – novas habilidades necessárias para enfrentar novos tempos, novos mercados, novas expectativas?
3. Pensamento horizontal e experiência específica, interdisciplinar e intercultural – o mentor precisa ter experiência comprovada em posição de liderança, equivalente à do mentorado, principalmente na liderança e na gestão de equipes multidisciplinares e multiculturais, pois a mentoria precisa estar aliada à visão e aos processos – produção, finanças, estrutura legal e societária, mercados e relações internacionais. Construir consenso, ambiente colaborativo, motivar o desenvolvimento e permitir o pensamento “dentro e fora da caixa” é essencial.
* Fundador do CEOlab e professor associado da FDC
ronaldo.ramos@ceolab.net