Maria José Tonelli*

Recentemente, um amigo me enviou um post do Instagram em que um senhor, aparentemente muito seguro de si, vendia um programa para formação de mentores em três dias, com a promessa de que seria possível ganhar muito dinheiro com essa atividade. Em um mundo em que as informações e as desinformações correm em alta velocidade, separar o joio do trigo é essencial.

A pergunta que fica é: por que muitas pessoas e empresas ainda se encantam com promessas mirabolantes? O fato é que não é somente em mentoria que programas desse tipo são difundidos. Há toda uma gama de modismos gerenciais ao longo da nossa história.

Alguns modismos em gestão começaram já nos anos 50, por exemplo, “Gestão por objetivos”. Nos anos 60, os “T-groups”; nos 70, a “Experience curve”; e, nos anos 90, com qualidade total, reengenharias e organizações de aprendizagem. E é possível observar que muitas ideias clássicas chegam hoje empacotadas com novos nomes, vendidas como inovação.

Ainda que “modismos gerenciais” possam facilitar a rápida difusão de inovações, os líderes precisam ficar atentos para não adotar medidas superficiais frente a problemas complexos, além de observarem se estão diante de profissionais competentes ou de vendedores astutos.

Valor da sabedoria e da experiência

Programas robustos de mentoring, no entanto, estão bem distantes de modismos gerenciais. Promovem o desenvolvimento de lideranças e precisam ser oferecidos em contextos apropriados e protegidos. A mentoria exercida por profissionais tem metodologia e “o valor da sabedoria que vem da experiência e da idade”, como mostrou um artigo recente do The Economist. A mentoria é exercida em pares e, portanto, mentor e mentorado precisam estar imbuídos do interesse genuíno de crescimento e expansão de consciência.

Multimentoria e mentoria reversa

Há modalidades já reconhecidas com a prática de mentoring. Entre elas, a multimentoria, em que o mentorado tem a oportunidade de conversar com diferentes mentores com diversas experiências, metodologia desenvolvida pelo CEOlab e que tem sido incentivada em muitas empresas.

A mentoria também pode ocorrer entre colegas mentores da própria empresa. Para isso, novamente mentores experientes podem ensinar o que é mentoria em programas desenvolvidos de acordo com a necessidade das empresas, com apoio do CEOlab na formação dos pares internos.

A mentoria reversa, na qual colaboradores mais novos transmitem conhecimento aos mais velhos, também é uma tendência assertiva, sobretudo neste momento em que temos o convívio de diferentes gerações nas empresas. Mas, mais uma vez, a formação dos pares precisa ser bem cuidada para não gerar desconfortos.

Como foi pontuado, a mentoria com profissionais com experiência é cada vez mais importante. E esses profissionais, que acumularam conhecimento e sabedoria ao longo de décadas, podem ser ainda mais valiosos em tempos incertos. 

*Maria José Tonelli é Doutora em Psicologia Social, especialista em Comportamento Organizacional, com mais de 30 anos de experiência em liderança. Professora titular na FGV EAESP e Mentora associada ao CEOlab.

Referências

Abrahamson, Eric (1991) Mangerial Fads and fashion: the Diffusion and Rejections of Innovations. Academy of Management Review 1991, Vol. 16, No. 3, 586-612.

Furham, Adrian (2015). Fads and Fashions in Management. The European BusinessReview,July, 20, 2015.

Chopra, Vineet e Saint, Sanjay (2017) Sixthings every mentor should do. Harvard Business Review, March 29, 2017.

Melville, Herman (2023) “The benefits of a good workplace mentoring is undeniable”. In: The Economist, 24th August, 2023.

Westring, Alyssa (2021) Why you need multiple mentors. Harvard Business Review, June,22, 2021.