Um significado mais profundo da liderança

Um significado mais profundo da liderança

Por Paulo Henrique Ferro (*) 

“O rio quando encontra o oceano deixa de ser rio, mas o oceano continua sendo oceano, um pouco transformado” – Autor desconhecido.

Existe um mundo em torno da liderança, seja do ponto de vista teórico acadêmico ou mesmo prático. De certo, é preciso estudar o tema como um todo. A escolha que faço em mentorias é partir da minha experiência, como gestor e conselheiro por mais de 40 anos. 

Desde que ocupei meus primeiros cargos de direção como C-Level, comecei a anotar as experiências vividas que me impactavam na carreira e na vida. Registrava apenas na forma de títulos, que depois sistematizei em tríades. 

Tríades são diagramas que dão uma conotação sucinta a alguma coisa. Funcionam como um excelente suporte para fazermos análises e comunicarmos a essência de algo. Podem ser utilizadas em várias situações quando queremos colocar foco. 

Na questão da liderança, a partir da minha experiência, organizei e registrei quatro dimensões de tríades que recomendo aos líderes, sobretudo aos que estão iniciando como C-Levels, que estudem e considerem na busca do seu contínuo desenvolvimento. 

Saúde Empresarial 

A tríade “Tendências/Proposta de Valor – Oportunidades – Risco” significa olhar para o negócio, para o que eu entrego além do preço, qualidade e prazo de entrega. Trata-se da proposta de valor, o que eu realmente transcendo para além das questões intrínsecas do meu produto ou serviço. 

Aqui o foco é a saúde do negócio, do empreendimento. Sem uma proposta de valor sólida e articulada, é possível que a empresa seja prejudicada principalmente em sua perenidade.

O que devemos nos perguntar nesta tríade é “consigo ouvir o inaudível?”, “consigo ver o invisível?”, “consigo ver a grama crescer?”. 

Por mais que a nossa visão seja um sentido dominante, muitas vezes a gente pode não estar reparando em algo que está bem diante dos nossos olhos. Muitos produtos rompedores de mercado vêm de alguém que viu algo, imaginou alguma coisa, e materializou essa visão na forma física. Como na escultura de Michelangelo; segundo ele, a obra final já estava lá na pedra bruta, só foi preciso lapidar e tirar o excesso. 

Saúde Financeira 

Em “Caixa – Preços – Salários”, o foco é obviamente a saúde financeira da empresa. Neste sentido, é preciso que a liderança conheça custo, tenha uma boa noção de salários e benefícios. São itens muito importantes que potencializam e, por trás disso, vem a produtividade. Em geral, falhar no diligente acompanhamento e ação, se necessária, pode se tornar desastroso. 

Caixa é rei dentro da empresa. Se você tem um problema com caixa pode ser o último que terá. Basta ver a coletânea de empresas que estão falindo por conta disso. Uma máxima dizia que “as empresas quebram pelo caixa, não pelo balanço”, em uma alusão de que todas as virtudes e talentos ou equívocos da gestão desembocam no caixa. 

As perguntas-chave de um líder neste sentido têm a ver com senso de urgência e com conhecimento. Qual o momento de intervir e o de não fazer nada? O que eu não sei e o que preciso buscar saber?

Em princípio: um líder é um generalista; pode ter ênfase maior em uma ou outra área, mas precisa ter conforto para navegar nas temáticas que forem essenciais ao seu negócio. 

O que importa é ter consciência sobre o que precisa saber. Ser um líder é desenvolver uma visão ampla de contexto, saber com clareza para o que dizer sim e o mais difícil, para o que dizer NÃO; esta última, uma habilidade trabalhosa de ser desenvolvida.

Saúde Mental 

“Coerência – Transparência – Respeito” tem a ver com relações, com a cultura da empresa. Esta tríade pode estar na raiz da saúde mental dos indivíduos e dos grupos. O líder tem que estar conectado em construir um ambiente de confiança, fazer o que fala e estimular os liderados a abraçarem a prática da empatia de maneira genuína. 

O que estamos observando nos tempos atuais é que, por conta de disfunções nesta tríade, assédio, burnout e outros problemas de saúde mental são uma preocupação constante.

Para refletir sobre isso, o líder deve se perguntar: “como eu desenvolvo um grupo maduro?”, “como lidar com esse mundo imperfeito?”. 

Observo as pessoas reclamando do mundo, da companhia, do time, do parceiro, do chefe, das catástrofes, da guerra. Parece que a maioria tem uma expectativa de que o mundo é um poço de perfeição. Só que sabemos que o mundo, assim como o ser humano, é imperfeito. O que me resta fazer? Aprender a lidar com isso continuamente.

É preciso que a liderança tenha essa habilidade, essa tranquilidade de lidar com o mundo imperfeito, que não se assuste com a imperfeição que está em volta de todos nós. Outro ponto fundamental é cuidar das relações, pois elas exercem forte impacto sobre as corporações.

Saúde Espiritual 

“Minhas Raízes – Meus Encontros – Minhas Escolhas” se resume à saúde espiritual. É o acervo de experiências de cada pessoa e como ela lida e reage aos acontecimentos, com as fraquezas tanto minhas como a dos outros. 

A empatia está muito próxima da espiritualidade do ponto de vista antroposófico. A minha visão de mundo já diz um pouco do meu espírito. É triste ver as pessoas que se deixam levar pelo “sensacionalismo” do noticiário, que está na casca e não na essência, e não investem em desenvolver uma metavisão, que vai além do significado das coisas que o passado está nos entregando e das obviedades contidas no presente e, muitas vezes, no próprio futuro que pensamos. 

A saúde espiritual vem fundeada no autoconhecimento. Um grande caminho para isso é a biografia humana, que atribui significado a esses fatos no tempo e ressignifica para hoje. Isto é um exercício espiritual muito importante, pois traz nutrição e provê força para o momento em que se está vivendo e também impulsiona o autoconhecimento. 

A grande pergunta nesta tríade é “como tomar a minha vida nas minhas próprias mãos?”.

O mundo está voraz por nos absorver, sequestrar nosso “eu”, mas há muitos casos que indicam que é possível defender-se destes ataques; nos mais variados aspectos e dimensões. Desde que se invista no espiritual e no conhecimento de si mesmo. Daí, novamente, o autoconhecimento aparece como uma força imperiosa para as lideranças. 

Este artigo é um recorte da vida prática e que nos remete à frase que inicia este texto, podendo nos revelar um sentido mais profundo da liderança que resumo assim:

“A liderança quando flui pela organização e encontra a sociedade deixa de ser liderança e passa a ser parte do mundo, um pouco transformado”.

(*) Paulo Henrique Ferro é consultor sênior, mentor certificado do CEOlab, coach PCC e mediador organizacional. 

Neste texto não foi usado nenhum recurso de IA.

Mentoras podem contribuir com a conscientização sobre vieses de gênero

Mentoras podem contribuir com a conscientização sobre vieses de gênero

Por Maria José Tonelli, Maria Cristina (Kika) Ricciardi e Ana Gati(*)

Diversidade é um conceito que precisa ser praticado na latitude de seu espectro. É por isso que o CEOlab tem, entre seu coletivo de mentores, pessoas que se distinguem pelas experiências, competências, gerações e gêneros, entre outros aspectos. No último quesito, mentoras com experiência internacional, em corporações globais, negócios insurgentes e até mesmo academia, podem contribuir para o desenvolvimento de mulheres em ascensão profissional, que encaram uma série de desafios, agregando a essa relação empatia, fortalecimento e identificação.

Artigo publicado recentemente pela revista GV Executiva, com o título “O Impacto dos Estereótipos na Carreira de Mulheres”(**), traz o estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que evidenciou as 15 principais barreiras, formadas por crenças e padrões históricos, para as mulheres chegarem a cargos de liderança nas empresas. Na lista, em 8º lugar, estão os estereótipos contra mulheres, e, em 12º lugar, o viés de gênero nos processos de recrutamento e promoção.

Ainda que inconscientes, os vieses prejudicam a carreira e a retenção de talentos de mulheres. Criam distorções que são responsáveis por influenciar negativamente a tomada de decisão, o comportamento e o julgamento de gestores, levando à discriminação e reduzindo as chances da equidade de gênero.

Entre os exemplos de vieses inconscientes estão: a convicção de que cargos de liderança estão associados a homens, enquanto mulheres são associadas a cargos de menor responsabilidade. Ou que mulheres têm menor aptidão para as STEMs (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

Vale ressaltar que vieses estão presentes em homens e mulheres, não é apenas uma característica masculina. Essa questão está presente em processos de tomadas de decisão, como mostrou Herbert Simon, prêmio Nobel de Economia, em 1978.

Há pesquisas que embasam e reforçam a existência de vieses, incluindo experiências em que o processo de recrutamento e seleção às cegas (em que o gênero não é revelado), comparado ao tradicional, trouxe como resultado uma maior contratação de candidatas mulheres.

Um estudo da McKinsey apontou mais desafios para as mulheres em contratações e promoções em todos os níveis hierárquicos, sendo que o pior impacto está no primeiro passo para o nível gerencial. Mulheres têm menor probabilidade de contratação para cargos gerenciais, e, no caso das promoções, para cada 100 homens promovidos a gerentes, apenas 72 mulheres são selecionadas. Como resultado final: dos cargos de gerente, 62% são ocupados por homens, e 38%, por mulheres.

Diversidade de gênero é poderosa ferramenta

No combate aos vieses inconscientes, a diversidade de gênero no ambiente empresarial é uma poderosa ferramenta, por meio da qual uma mulher pode dar suporte às suas colegas e essa aliança influenciar positivamente seus pares e líderes.

Empresas majoritariamente lideradas por homens e mercados prioritariamente masculinos – nos quais os vieses são ainda mais presentes – também podem se beneficiar de mentoria com mulheres, que podem trazer a reflexão acerca desses estereótipos, resultando na conquista de uma representatividade de gênero nas empresas, com mais mulheres ocupando cargos de gestão e liderança.

A diversidade de gênero, raça, idade, e de classe social pode trazer impactos financeiros e não financeiros nas empresas, já que promovem criatividade e performance e reforçam a reputação, além de maior conexão com os consumidores, como mostra o estudo publicado pela ONU Mulheres(***).

Representatividade na liderança

É essencial que as mulheres se vejam representadas e acreditem que também podem chegar à liderança. A experiência e a inspiração de outras mulheres que conseguiram superar esses vieses podem ser de grande valia para o fortalecimento e a mudança de mentalidade.

Para além dos vieses, há também as questões sociais que, grande parte das vezes, permeiam o universo feminino. A mulher acaba tendo, por razões historicamente sociais e culturais, maior preocupação com a família. Somos mais cobradas por nós mesmas e pela sociedade e fazemos jornada múltipla. Todos esses aspectos fazem com que se tenha uma identificação maior entre mulheres, para que se crie a tão necessária “química”, a empatia que precisa acontecer entre mentora e mentorada.

Obviamente, mulheres mentoras também agregam aos homens líderes, sobretudo os que querem genuinamente incluir lideranças femininas em seu quadro de funcionários. Portanto, a atenção aos vieses e possíveis caminhos para enfrentá-los podem ganhar luz nas mentorias, agregando tanto aos homens como às mulheres.

Formas para eliminar vieses de gênero

Estudos mostram que, para mudar pensamentos e atitudes, as pessoas devem tomar consciência do impacto negativo de vieses de gênero, atribuindo uma nova forma de olhar e pensar sobre a importância de uma cultura inclusiva e do aumento dos talentos femininos nas empresas. Esse é o início da jornada para eliminar vieses, além do primeiro passo que é o de reconhecer que eles existem.

O artigo da GV Executiva também cita outras formas de combate aos vieses, tais como: realizar revisões periódicas de processos importantes como avaliação de desempenho, calibração e promoção, com a preparação de materiais para relembrar as pessoas dos principais vieses e seu impacto; a participação em grupos de afinidade de gênero nas organizações; treinamentos e workshops continuados para a tomada de consciência.

Tudo deve partir, evidentemente, da conscientização da liderança. Somente desta forma a empresa ou a organização estará pronta para eliminar vieses de gênero e estereótipos que prejudiquem a contratação e a retenção de talentos femininos e, de fato, instaurar processos de inclusão e equidade de gênero.

Por fim, vale ressaltar que a mentoria multidisciplinar do CEOlab procura abordar o profissional na sua totalidade, além dos aspectos técnicos e de gestão. 

Principais barreiras para as mulheres chegarem a cargos de liderança (estudo OIT):

1. Responsabilidades domésticas maiores para mulheres do que para homens;

2. Funções diferentes atribuídas pela sociedade para homens e mulheres;

3. Cultura corporativa masculina;

4. Mulheres com experiência insuficiente em cargos de gestão e liderança;

5. Poucos role models femininos na liderança;

6. Homens não incentivados a terem responsabilidades em casa (com afazeres domésticos e cuidado com os filhos);

7. Falta de políticas e programas para promover a igualdade de gênero;

8. Estereótipos contra as mulheres;

9. Falta de treinamento de liderança para mulheres;

10. Falta de soluções para trabalhos flexíveis;

11. Ausência de estratégia para retenção de mulheres qualificadas;

12. Viés de gênero nos processos de recrutamento e promoção;

13. Cargos de liderança e tomada de decisões considerados apenas para os homens;

14. Políticas de igualdade de gênero não implementadas;

15. Leis inadequadas sobre trabalho e não discriminação.

(*) Ana Gati, Maria Cristina (Kika) Ricciardi e Maria José Tonelli são mentoras associadas ao CEOlab.

(**) Revista GV Executiva, edição vol. 22, nº 1., Especial Mulheres na Liderança.

(***) http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2021/09/Business-Case_Report.pdf

Modismos gerenciais: como separar o joio do trigo?

Modismos gerenciais: como separar o joio do trigo?

Maria José Tonelli*

Recentemente, um amigo me enviou um post do Instagram em que um senhor, aparentemente muito seguro de si, vendia um programa para formação de mentores em três dias, com a promessa de que seria possível ganhar muito dinheiro com essa atividade. Em um mundo em que as informações e as desinformações correm em alta velocidade, separar o joio do trigo é essencial.

A pergunta que fica é: por que muitas pessoas e empresas ainda se encantam com promessas mirabolantes? O fato é que não é somente em mentoria que programas desse tipo são difundidos. Há toda uma gama de modismos gerenciais ao longo da nossa história.

Alguns modismos em gestão começaram já nos anos 50, por exemplo, “Gestão por objetivos”. Nos anos 60, os “T-groups”; nos 70, a “Experience curve”; e, nos anos 90, com qualidade total, reengenharias e organizações de aprendizagem. E é possível observar que muitas ideias clássicas chegam hoje empacotadas com novos nomes, vendidas como inovação.

Ainda que “modismos gerenciais” possam facilitar a rápida difusão de inovações, os líderes precisam ficar atentos para não adotar medidas superficiais frente a problemas complexos, além de observarem se estão diante de profissionais competentes ou de vendedores astutos.

Valor da sabedoria e da experiência

Programas robustos de mentoring, no entanto, estão bem distantes de modismos gerenciais. Promovem o desenvolvimento de lideranças e precisam ser oferecidos em contextos apropriados e protegidos. A mentoria exercida por profissionais tem metodologia e “o valor da sabedoria que vem da experiência e da idade”, como mostrou um artigo recente do The Economist. A mentoria é exercida em pares e, portanto, mentor e mentorado precisam estar imbuídos do interesse genuíno de crescimento e expansão de consciência.

Multimentoria e mentoria reversa

Há modalidades já reconhecidas com a prática de mentoring. Entre elas, a multimentoria, em que o mentorado tem a oportunidade de conversar com diferentes mentores com diversas experiências, metodologia desenvolvida pelo CEOlab e que tem sido incentivada em muitas empresas.

A mentoria também pode ocorrer entre colegas mentores da própria empresa. Para isso, novamente mentores experientes podem ensinar o que é mentoria em programas desenvolvidos de acordo com a necessidade das empresas, com apoio do CEOlab na formação dos pares internos.

A mentoria reversa, na qual colaboradores mais novos transmitem conhecimento aos mais velhos, também é uma tendência assertiva, sobretudo neste momento em que temos o convívio de diferentes gerações nas empresas. Mas, mais uma vez, a formação dos pares precisa ser bem cuidada para não gerar desconfortos.

Como foi pontuado, a mentoria com profissionais com experiência é cada vez mais importante. E esses profissionais, que acumularam conhecimento e sabedoria ao longo de décadas, podem ser ainda mais valiosos em tempos incertos. 

*Maria José Tonelli é Doutora em Psicologia Social, especialista em Comportamento Organizacional, com mais de 30 anos de experiência em liderança. Professora titular na FGV EAESP e Mentora associada ao CEOlab.

Referências

Abrahamson, Eric (1991) Mangerial Fads and fashion: the Diffusion and Rejections of Innovations. Academy of Management Review 1991, Vol. 16, No. 3, 586-612.

Furham, Adrian (2015). Fads and Fashions in Management. The European BusinessReview,July, 20, 2015.

Chopra, Vineet e Saint, Sanjay (2017) Sixthings every mentor should do. Harvard Business Review, March 29, 2017.

Melville, Herman (2023) “The benefits of a good workplace mentoring is undeniable”. In: The Economist, 24th August, 2023.

Westring, Alyssa (2021) Why you need multiple mentors. Harvard Business Review, June,22, 2021.

A solidão da liderança

A solidão da liderança

Ronaldo Ramos*

Um líder pode demonstrar vulnerabilidade? Em outros tempos, quem ocupava a liderança era visto como herói, uma pessoa forte, que sabia todas as respostas, capaz de tomar qualquer decisão. Até as mais difíceis. Um fardo muito pesado para qualquer indivíduo. Atualmente, essa visão tem mudado consideravelmente.

No entanto, o líder ainda lida constantemente com a questão da solidão, do isolamento na posição em que ocupa, nas decisões que precisa tomar. Neste sentido, a vulnerabilidade não é uma fraqueza e sim a capacidade de compartilhar dúvidas, incertezas ou aquilo que não está dando certo. A minha pergunta-chave para os mentorados é sempre a mesma: o que está te tirando o sono ultimamente?

A mentoria oferece um ambiente intimista onde o C-Level pode se sentir vulnerável nessa solidão, compartilhar com outro executivo aquilo que não dividiria com mais ninguém. Esta é a grande questão que os mentorados trazem quando me procuram. A de estarem sozinhos diante de um dilema pessoal ou profissional, tais como: assumir ou não a empresa familiar ou a solidão na tomada de decisão nos processos da empresa.

O poder da pergunta

Importante ressaltar que o mentor não traz respostas prontas diante das situações expostas pelos mentorados e sim perguntas, que levam a reflexões que não seriam feitas de outra forma. A pergunta é um portal que se abre em busca de se enxergar melhor determinada situação. Sinaliza como é que alguém deve mudar seu comportamento para observar a natureza do problema.

Recentemente, em conversa com a mentorada Juliana Gonçalves, CEO da Gráfica Gonçalves, ela abordou esse ponto:

“Os mentores não falam o que fazer. Se há essa pergunta, o mentor volta com outra pergunta. A mentoria ajuda a refletir aonde você está e aonde quer chegar. E esse passo a passo foi muito importante e fundamental na minha carreira (na minha vida e na da empresa), me deu mais segurança para achar o caminho. Faz toda a diferença ponderar, refletir, analisar os prós e os contras, e escolher com calma e critério. Quando iniciei a mentoria, estava em um momento da carreira em que precisava tomar uma decisão. Sou de empresa de família, não sabia se ficava ou buscava outros caminhos. Se não tivesse feito mentoria, dificilmente conseguiria sair da angústia sozinha e teria feito opções erradas, mais duras e difíceis”.

Quem nasceu líder?

O fato é que ninguém nasce preparado para se tornar um líder e ter de lidar com uma enormidade de decisões. De repente, você é colocado na cadeira de gestor, diretor, CEO. Porém, para se manter nesta cadeira e continuar priorizando a saúde (mental, sobretudo), é preciso assumir que não sabe de tudo, que não estava preparado para todos os desafios.

Abordei esse ponto em conversa com outro mentorado, Carlos Bertozzi, Managing Director da Hella do Brasil,que nos contou como foi importante para ele reconhecer que essa ajuda era relevante e necessária:

“Primeiro, eu me debati com o desafio de como encontrar o mentor ideal, precisaria de empatia e troca entre dois executivos. No início, tinha dúvidas se ia dar certo e, agora que o tempo passou, a gente olha pra trás e fica evidente a evolução profissional. Para ser mentorado é preciso se despir de todas as formas de orgulho, você faz perguntas de todos os níveis. E o trabalho do mentor sempre foi o de ouvir, fazer perguntas e ponderar. A mentoria abre portas que eu nem sabia que existiam. É uma relação de muita confiança que vai se intensificando. Acredito que a fase inicial da mentoria dure dois anos e isso depende da dinâmica e do momento da empresa. O negócio vai direcionar o momento atual, se é de refletir sobre cultura, governança, estruturação…”.

Confiança, conhecimento e networking

O ambiente de confiança é fundamental para que o trabalho de mentoring alcance os objetivos esperados. E isso vai se construindo aos poucos, a cada encontro, com a convivência e as trocas. Inclusive, a última não acontece somente entre mentor e mentorado.

Em entrevistas, costumo me descrever como um aprendiz, um tanto inquieto e curioso; outro tanto equilibrista e investigador. Gosto de aprender com vivência, leitura, cursos.  Gosto de formular minhas próprias perguntas. Gosto de aprender coletivamente. Deve ser por tudo isso que me veio a criação do CEOlab, que, além da multidisciplinaridade de mentores, também promove encontros e um ecossistema em que é possível interagir com outras pessoas. Fazer conexões. Buscar um alívio para essa solidão que tantos sentem e, quando nos encontramos, percebemos que é um lugar comum.

*Ronaldo Ramos é fundador do CEOlab, membro de conselhos de Administração e Consultivo, especialista em gestão de times multidisciplinares e multiculturais. É presidente da CCBC – Câmara de Comércio Brasil-Canadá e conselheiro da Santa Helena.

CEOlab comemora 10 anos fortalecendo relações de confiança

CEOlab comemora 10 anos fortalecendo relações de confiança

Um dia para lembrar e relembrar. Foi assim a celebração dos 10 anos do CEOlab, com a participação de mais de 40 mentorados representando uma década de relações de confiança e apoio mútuo.

O fundador do CEOlab, Ronaldo Ramos, fez um discurso que ilustra a trajetória dessa iniciativa e como vem impactando a vida de tantos gestores. “Cada mentorado aqui presente tem uma história e eu tive o privilégio de fazer parte de uma grande parte dessas histórias. Ao longo desta caminhada, construímos relações profundas e sinceras, de desenvolvimento, crescimento, aceleração e compartilhamento de questões íntimas e pessoais”.

Entre os presentes no evento, Henrique Bottura, mentorado do CEOlab há sete anos, falou do sentimento de gratidão por tantos aprendizados vividos durante muitos momentos:

“Sou psiquiatra e empresário. Sempre acreditei que é um diferencial tremendo o empresário que faz mentoria. Quando olham para o executivo, as pessoas não costumam ver o quanto temos de aprender, lidar com dilemas, nos transformarmos. Ter alguém que já vivenciou tudo isso e, com um nível moral e intelectual, que te ajuda a traduzir o que está vivendo, faz com que possamos pensar com clareza. É uma economia de anos. Foram várias coisas que a gente já viveu (eu e Ronaldo) e ele acompanhou esse processo, de um empresário júnior se tornando em alguém mais maduro”.

Mentorada há seis anos, Simone do Santos Barione, CEO do Grupo Teckma Engenharia, procurou a mentoria ao assumir o desafio da nova posição de CEO da empresa familiar:

“A mentoria me ajudou a identificar metas pessoais e profissionais, bem como a desenvolver habilidades e conhecimentos necessários para alcançá-las. Contribuiu para que eu desenvolvesse planos de ação para meu crescimento, assim como para a promoção de uma mentalidade empreendedora. Como atuo em uma área dominada por homens, ser uma mulher na gestão é um desafio diário. A mentoria me deu as bases para desenvolver habilidades de liderança inspiradora e manter foco no que é melhor para a empresa, auxiliando na superação de algumas situações neste sentido”.

Simone lembrou sua participação em um painel conduzido pelo CEOlab, com a temática Mulheres no Mercado de Trabalho: “Foi muito enriquecedor descobrir que não estamos sozinhas e que estamos protagonizando igualdade de gênero, implementando políticas de igualdade e incentivando a diversidade”.

Para além da mentoria, o CEOlab também atua na construção de relacionamentos e networking. “O CEOlab planta sementes e vamos continuar a semeadura. Para 2024, há muita novidade porvir. Entre elas, a expansão do CEOlab Hub, com encontros presenciais a cada trimestre, exclusivos para CEOs e convidados especiais”, anunciou Ronaldo.

Durante o evento, Ronaldo também comemorou a década de atuação em companhia dos mentores associados ao CEOlab: Paulo Henrique Ferro, Maria José Tonelli, Maria Cristina (Kika) Ricciardi, Walter Mendes de Oliveira Filho, Ana Gati e Maurício Del Buono Ramos.